Tudo sobre as progestinas (progestagênios)
O que você precisa saber sobre a forma sintética da progesterona.
*Tradução: Mariana Rezende
Hormônios são muito mais interessantes do que aquilo que nos ensinam nas aulas de ciência. Por isso nós criamos um guia para toooodos os hormônios. Aqui está tudo o que você precisa saber sobre estrogênio, progesterona, androgênios, estrogênio sintético, globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG em inglês) e agora as progestinas.
Coisas importantes a saber:
As progestinas presentes nos anticoncepcionais hormonais inibem a ovulação e/ou reduzem a quantidade e a elasticidade do muco cervical, tornando-o hostil ao esperma .
A estrutura química das progestinas é diferente da progesterona natural, o que significa que a maneira como eles interagem com os receptores hormonais do corpo também é diferente.
Os efeitos colaterais das progestinas podem estar relacionados à dose ou potência, aos receptores hormonais específicos com os quais interagem ou à resposta individual de uma pessoa.
Quando as progestinas são combinadas com estrogênios, os efeitos colaterais nem sempre são diretos ou fáceis de prever, uma vez que os dois componentes podem interagir e às vezes se neutralizarem.
O que são progestagênios (as progestinas)?
As progestinas, também chamadas progestagênios, são a forma sintética do hormônio progesterona produzida naturalmente pelo organismo.
Os progestagênios foram concebidos para interagir com os receptores de progesterona no organismo com o objetivo de causar efeitos semelhantes à progesterona (1, 2). Isso significa que eles fazem coisas parecidas com a progesterona natural produzida pelo corpo. Por exemplo, os progestagênios podem causar alterações no endométrio (revestimento do útero) que impedem sua proliferação (acumulação) excessiva e que podem ajudar a dar suporte para a implantação e a continuação de uma gravidez inicial (1, 2, 3).
Os progestagênios foram originalmente desenvolvidos porque a progesterona natural não é bem absorvida quando tomada como pílula por via oral e é metabolizada (processada) pelo organismo tão rápido que chega a ser pouco eficaz (2, 4). Agora, a progesterona está disponível em uma forma micronizada (partícula menor) que é absorvida mais facilmente e dura mais tempo no corpo (4), mas somente os progestagênios – não a progesterona micronizada – são usadas em anticoncepcionais.
Qual é o uso dos progestagênios?
As progestinas em anticoncepcionais hormonais
Os progestagênios estão presentes em todas as formas de anticoncepção hormonal, isoladamente em métodos somente à base de progestagênios (como implante, DIU hormonal, injeção ou minipílula) ou com um estrogênio em anticoncepcionais hormonais combinado (como a maioria das pílulas, adesivos, anéis vaginais e algumas injeções) (4).
As progestinas impedem a gravidez inibindo a ovulação e reduzindo a quantidade e a elasticidade do muco cervical, tornando-o hostil aos espermatozóides que tentam entrar no útero (2, 4).
Alguns progestagênios comuns e o tipo de anticoncepcionais em que são encontrados:
Anticoncepcionais à base de progestinas somente e sangramentos irregulares e de escape
Nos anticoncepcionais hormonais combinados, o progestagênio é o principal responsável por impedir a gravidez, suprimindo a ovulação e inibindo a secreção de muco fértil e elástico (2, 4).
O objetivo do estrogênio nos contraceptivos hormonais combinados é tornar o sangramento previsível (4). Sem o estrogênio, os métodos à base de apenas progestinas geralmente causam mudanças no sangramento menstrual (5, 6)
Sangramentos não cíclico (ou imprevisíveis) ou de escape são comuns com o DIU hormonal, implante de etonogestrel, a injeção ou a minipílula (7, 8). Esse tipo de sangramentos normalmente diminui com o tempo para as pessoas que usam o DIU hormonal ou a injeção (7). A amenorreia (ausência de sangramento menstrual) é possível com todos os métodos à base de somente progestagênio (7, 8). O sangramento intenso é incomum com o DIU hormonal e o implante, mas pode ser um efeito colateral para as pessoas que usam as injeções (7).
O progestagênio nas terapias hormonais da menopausa
Às vezes, o estrogênio é prescrito para pessoas com sintomas relacionados à menopausa, como afrontamentos (ondas de calor) ou secura vaginal (9). O estrogênio (que ocorre naturalmente no corpo ou é ingerido na forma de medicamento) faz com que o endométrio cresça, criando uma camada espessa (10). O excesso de estrogênio pode causar um crescimento exagerado do endométrio, que é um fator de risco para o câncer de endométrio (9, 10).
Em algumas situações, os progestagênios são usadas como parte da terapia de reposição hormonal da menopausa porque evitam que o endométrio se acumule em excesso e se torne canceroso (2, 4, 9).
Outros usos de progestagênios
As progestinas (lembre-se, assim também são chamados os progestagênios!) são indicadas para casos de amenorreia (ausência de menstruação) e sangramento menstrual irregular (4). Eles também são usados para tratar a dor pélvica crônica e cólicas menstruais sentidas por pessoas com endometriose (11).
Como os progestagênios se diferem da progesterona natural?
Antes de entrarmos nos possíveis efeitos colaterais das progestinas, vejamos algumas informações importantes.
Se você está se perguntando se deve tomar um anticoncepcional ou medicamento contendo progestagênio, é importante conhecer os diferentes tipos de progestagênio e como eles podem afetar seu corpo.
Porgestagênios são criados em laboratório, geralmente tendo um hormônio como base. A maioria dos progestagênios é criada a partir de testosterona, alguns a partir de progesterona, e um deles é um tipo de espirolactona (classe de hormônios sintéticos que podem afetar o equilíbrio de sal e água do corpo) (1, 2, 4).
As progestinas podem ser agrupadas em "gerações", o que se refere ao tempo que estão no mercado. Um sistema de classificação mais útil para entender seus efeitos é agrupá-las por estrutura com base no hormônio a partir do qual foram criados (4).
A estrutura química dos progestagênios é diferente da estrutura da progesterona natural. Essas pequenas diferenças na forma impactarão a maneira como elas interagem com os receptores de hormônios em seu corpo.
As progestinas podem se conectar a mais de um receptor de progesterona no corpo.
As progestinas também podem se conectar a receptores para:
outros hormônios, como mineralocorticóides ou glicocorticóides (hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais)
Os progestagênios, quando conectados a esses receptores, podem causar efeitos colaterais diferentes – dependendo do progestagênio ativar ou bloquear o receptor (2).
Isso não significa necessariamente que haverá alterações visíveis para uma pessoa (2). Por exemplo, só porque um progestagênio é androgênico (conecta-se a receptores de androgênios), não significa necessariamente que uma pessoa que está tomando esse progestagênio notará efeitos semelhantes aos dos androgênios, como aumento da acne ou excesso de crescimento capilar.
Efeitos colaterais das progestinas
Você pode sentir efeitos colaterais se seu anticoncepcional ou terapia hormonal contiverem progestagênios. A maneira como você gere suas condições médicas também pode influenciar.
Os efeitos colaterais do progestagênio (progestinas) podem estar relacionados com:
a dose ou potência de um progestagênio específico (5)
os receptores de hormônios específicos com os quais o progestagênio está interagindo (5)
a resposta individual de uma pessoa ao progestagênio
Compreender o que causa efeitos colaterais pode ser ainda mais complicado, porque efeitos diferentes podem ser produzidos quando um progestagênio é combinado com doses diferentes de estrogênio.
Quando as progestinas são combinadas com estrogênios (como nos anticoncepcionais hormonais combinados), os efeitos colaterais nem sempre são diretos ou fáceis de prever, uma vez que os dois componentes podem interagir e, às vezes, se contrapor (5).
A resposta das pessoas aos anticoncepcionais nem sempre serão as mesmas, mas para algumas delas a formulação específica e o tipo de progestagênio podem fazer a diferença. Às vezes, uma simples mudança na dose ou no tipo de anticoncepcional pode melhorar os efeitos colaterais.
Efeitos colaterais de anticoncepcionais relacionados à dose ou potência de progestinas
Os efeitos colaterais dos anticoncepcionais podem acontecer se a dose de progestagênio não for alta o suficiente (deficiência de progestagênio) ou se a ligação entre a progestina e os receptores de progesterona não for forte o bastante, devido às formas ligeiramente diferentes dos diferentes progestagênios (5).
Efeitos colaterais relacionados à deficiência de progestagênio
sangramento ou escape durante o uso de pílulas anticoncepcionais ativas (contendo hormônios) durante 10 a 21 dias de uma cartela
sangramento de retirada intenso
aumento de cólicas (5)
Uma pessoa também pode sentir efeitos colaterais se a dose de progestagênio é maior do que os níveis de progesterona em seu corpo com os quais estão acostumadas.
Efeitos colaterais relacionados ao excesso de progestagênio
pressão sanguínea elevada
cansaço ou sonolência
hipoglicemia (baixo teor de açúcar no sangue)
redução da duração da menstruação (5)
Efeitos colaterais relacionados ao androgênio dos progestagênios em anticoncepcionais
Os progestagênios que se conectam aos receptores de androgênios podem causar efeitos colaterais semelhantes aos dos androgênios em algumas pessoas, tais como acne, hirsutismo (excesso de pelos) ou mudanças nos níveis de colesterol (2, 4, 12).
Os efeitos colaterais semelhantes aos dos androgênios estão particularmente presente para pessoas que usam métodos anticoncepcionais somente à base de progestagênios – como o DIU hormonal, a minipílula, o implante ou a injeção – que não contêm estrogênio (12).
Se você suspeita que seu anticoncepcional está causando acne, hirsutismo ou outras mudanças parecidas com os efeitos dos androgênios, é importante tentar perceber qual tipo de progestagênio está presente em seu método específico e se é um tipo de progestagênio androgênico.
Progestagênios androgênicos
levonorgestrel (implante, DIUs hormonais, pílula, pílula do dia seguinte)
noretindrona (minpílula)
acetato de noretindrona (pílula)
norgestimato (pílula)
desogestrel (pílula, minipílula)
etonogestrel (implante, anel vaginal)
norelgestromina (adesivo)
gestodeno (pílula)
acetato de medroxiprogesterona (semanal) (injeção) (1, 2, 5, 13)
Efeitos colaterais de antiandrogênicos dos progestagênios em anticoncepcionais
No geral, métodos anticoncepcionais hormonais combinados – aqueles que contêm progestagênio e estrogênio – aumentam os efeitos colaterais relacionados aos androgênios, como acne e hirsutismo (14, 15).
Isso acontece porque o componente de estrogênio suprime a produção de androgênios dos ovários e aumenta a quantidade de uma proteína chamada globulina de ligação aos hormônios sexuais (SHBG). A SHBG conecta os androgênios encontrados no sangue e os impede de entrar nas células da pele e nos folículos capilares (5, 6).
Alguns progestagênios são antiandrogênicos, o que significa que eles se conectam ao receptor de androgênios e impedem que os androgênios se conectem a ele, mas eles não podem ser ativados. Esses progestagênios antiandrogênicos podem até ser benéficos no tratamento de acne e hirsutismo quando combinados com o estrogênio, porque eles reduzem a quantidade de androgênios disponíveis no sangue e também bloqueiam androgênios (1, 16).
Progestagênios antiandrogênicos
acetato de clormadinona (pílula)
acetato de ciproterona (pílula)
drospirenona (pílula)
dienogeste (pílula) (1, 2, 5, 13)
Inchaço e outros efeitos colaterais do progestagênio
As progestinas que se ligam aos receptores de mineralocorticóides ou glicocorticóides podem causar efeitos colaterais relacionados ao equilíbrio de sal e água no organismo (1). Os mineralcoirticóides e os glucocoirticóides são hormônios produzidos pelas glândulas adrenais que ficam na parte superior dos rins.
Os progestagênios que se ligam aos receptores de glucocorticóides e aumentam a atividades glucocorticóides podem causar inchaço (1).
Progestagênios com atividade glucocorticóide
acetato de clormadinona (pílula)
acetato de ciproterona (pílula)
acetato de medroxiprogesterona (injeção)
gestodeno (semanal) (pílula)
etonogestrel (semanal) (implante, anel vaginal) (2)
Por outro lado, os progestagênios que se ligam aos receptores de mineralcorticóides e possuem atividade anti-mineralcorticóide podem reduzir a retenção de líquidos e o inchaço (1).
Progestagênios com atividade anti-mineralcorticóide
gestodeno (pílula)
drospirenona (pílula) (1, 2)
Progestagênios e o risco de coágulos sanguíneos
A Trombose Venosa Profunda (TVP) é uma condição em que coágulos sanguíneos se desenvolvem nas veias (principalmente nas pernas) e podem oferecer risco de vida caso se desloquem para o pulmão, coração ou cérebro.
Os métodos à base de somente progestinas geralmente não são considerados como potencializadores do risco de coágulos sanguíneos (17, 18). No entanto, quando combinados com o estrogênio em anticoncepcionais hormonais combinados, o tipo de progestagênio pode fazer diferença no risco de coágulos sanguíneos (1, 18).
Um estudo considerável realizado na Dinamarca demonstrou que pessoas que usam anticoncepcionais contendo os progestagênios desogestrel, gestodeno e drospirenona tinham o dobro de risco de desenvolver um coágulo sanguíneo em uma veia do que as pessoas que usam anticoncepcionais com levonorgestrel (18). Outro estudo que combinado dados de seis estudos não encontre uma conexão entre o tipo de progestagênio e o risco de coágulos sanguíneos (19).