Tudo sobre a progesterona
Conheça seus hormônios.
*Traduçao: Mariana Rezende
O que é a progesterona? Como a progesterona é produzida?
A progesterona é o principal hormônio de uma classe de hormônios chamados progestágenos. Os progestágenos são hormônios sexuais (como estrogênios e androgênios), o que significa que eles afetam o desenvolvimento sexual durante a puberdade e estão envolvidos no processo de reprodução.
Aprender a importância da progesterona e como ela afeta seu corpo através de diferentes fases da vida pode proporcionar um melhor entendimento de sintomas associados a seu ciclo menstrual, sinalizar quando algo está errado, ajudar você a ter uma gravidez saudável ou escolher o melhor tipo de método anticoncepcional para você. Esse entendimento pode ajudar você a se posicionar junto a um(a) médico(a) e fazer as melhores escolhas para sua saúde.
Os hormônios são pequenas moléculas produzidas pelas glândulas e que viajam pela corrente sanguínea até chegarem a um órgão cujas células possuem receptores específicos para esse hormônio. A progesterona atinge e afeta o útero, a vagina, o colo do útero, as mamas e os testículos, bem como o cérebro, os vasos sanguíneos e os ossos (1, 2).
Seu corpo usa o colesterol como o componente principal para fabricar a progesterona. A progesterona é produzida principalmente nos ovários pelo corpo lúteo (3), que é a área que se desenvolve depois que a ovulação acontece e o folículo em torno do óvulo se rompe. Parte da progesterona também é produzida pelas glândulas suprarrenais, que ficam em cima dos rins. Durante a gravidez, a placenta produz progesterona (4).
O que a progesterona faz com o corpo?
Interrompe o acúmulo do endométrio causado pelo estrogênio
Reduz a produção de muco cervical
Inibe a ovulação quando em níveis altos
Prepara o endométrio para a possível implantação de um óvulo fertilizado
Sustenta a gravidez inicial e a mantém de forma contínua
Desenvolve as glândulas mamárias durante a gravidez em preparação para a lactação
Diminui a contração uterina para evitar contrações durante a gravidez
Diminui a atividade no intestino, possivelmente causando constipação (1, 2, 4 a 6)
Como a progesterona muda durante o ciclo menstrual?
Antes da ovulação = progesterona mais baixa
No início do ciclo menstrual (durante a menstruação), os níveis de progesterona estão baixos e continuam assim durante a fase folicular (4, 7).
Depois da ovulação = progesterona mais alta
A progesterona é o hormônio dominante após a ovulação (a fase lútea). A progesterona é produzida pelo corpo lúteo, que é a área do ovário criada pelo folículo rompido que continha o óvulo ovulado. Os níveis de progesterona atingem o pico no meio da fase lútea (8, 9). Se a concepção não acontecer, o corpo lúteo começa a quebrar 9 a 10 dias após a ovulação, causando a queda dos níveis de progesterona e o início da menstruação (1, 4).
Como faço para saber se meus níveis de progesterona estão normais?
Existem alguns sinais e sintomas que você pode observar caso seus níveis de progesterona não estejam normais.
Progesterona baixa
A progesterona pode estar baixa se a ovulação não estiver acontecendo regularmente (ou de todo), ou se seu corpo não consegue produzir progesterona suficiente.
Alguns sinais e sintomas de que a progesterona está baixa:
Menstruações longas e intensas
Escape antes da menstruação
Ciclos menstruais curtos devido a uma fase lútea curta (4, 10)
Algumas condições, como prolactina elevada (um hormônio que induz a produção de leite), hipotireoidismo ou síndrome dos ovários policísticos (SOP), podem originar uma ovulação rara ou ausente, o que levaria a níveis baixos de progesterona (11). Nestes casos, a causa da progesterona baixa deve ser diagnosticada e tratada.
Defeito da fase lútea
O termo defeito da fase lútea é usado para descrever uma condição que ocorre quando o corpo não produz progesterona natural suficiente para manter a função normal do endométrio e dar suporte à implantação e o crescimento e à continuação de uma gravidez inicial (12). Você também pode ver isso chamado de insuficiência da fase lútea. Diagnosticar um defeito na fase lútea pode ser difícil e não existe um único teste unânime para isso. Quando não temos uma causa conhecida para progesterona baixa, não há diretrizes claras sobre como e quando tratá-la. No geral, há pouca informação disponível sobre pessoas que têm progesterona baixa e não estão tentando engravidar.
Progesterona baixa e aborto espontâneo
Como a progesterona é importante para manter uma gravidez em seu estágio inicial (13), presume-se que a taxa baixa do hormônio possa ser uma das causas de infertilidade ou abortos espontâneos. No entanto, que o defeito na fase lútea seja uma das causas de infertilidade, além da melhor forma de diagnosticar e tratar o problema, é um tema de debate entre pesquisadores e profissionais de saúde (12).
A baixa progesterona durante a fase lútea não parece estar associada a um aumento no risco de abortos espontâneos. Um estudo com 191 pessoas mostrou que os níveis de progesterona durante a fase lútea foram semelhantes para pessoas que tiveram abortos espontâneos em comparação com aquelas que não tiveram (14). Outro estudo que incluiu 197 pessoas que tiveram pelo menos dois abortos espontâneos consecutivos mostrou que um nível baixo de progesterona durante a fase lútea não previu quem poderia ter outro aborto espontâneo (15).
A baixa progesterona no início da gravidez pode ser um sintoma de uma gravidez que não é viável versus uma causa de aborto espontâneo. Um estudo mostrou que pessoas que tiveram sangramento durante o início da gestação tiveram menor progesterona e maior probabilidade de ter um aborto espontâneo do que pessoas que não tiveram sangramento no primeiro trimestre (16). Para pessoas que tiveram vários abortos espontâneos em que a causa é desconhecida, o tratamento com um progestagênio pode ajudar a prevenir abortos espontâneos, particularmente em pessoas que tiveram três ou mais abortos espontâneos, mas são necessários mais estudos (17).
Progesterona alta
A progesterona alta é pouco comum, mas pode ser um sinal de certos distúrbios, como:
Hiperplasia adrenal congênita
Um tipo anormal de gravidez chamado mola hidatiforme
Cistos ovarianos
Determinados tumores ovarianos (18)
Quais são os níveis “normais” de progesterona durante diferentes fases da vida?
Os níveis de progesterona podem variar de pessoa para pessoa, mas também para a mesma pessoa de ciclo para ciclo. Diferenças nos procedimentos laboratoriais, população atendida pelo laboratório e técnicas usadas nos exames também podem interferir nos resultados, de modo que os resultados devem sempre ser interpretados usando os valores de referência do próprio laboratório (7).
No entanto, veja a seguir uma noção de como os níveis de progesterona podem ser comparados em diferentes fases da vida (18). Você pode levar essas referências em suas consultas médicas a título de comparação.
O que é progestagênio?
Os progestagênios são hormônios sintéticos criados a partir de progesterona ou testosterona que têm efeitos semelhantes aos da progesterona (19). São usados em todos os anticoncepcionais hormonais (de forma isolada ou em combinação com um estrogênio) e em alguns tratamentos hormonais da menopausa.
Como a estrutura química dos progestagênios é um pouco diferente da progesterona produzida pelo corpo, eles não são ideais para os receptores de progesterona. Os progestagênios podem se ligar a mais do que apenas os receptores de progesterona no organismo. Eles também podem se ligar a receptores de androgênios e estrogênios, causando efeitos colaterais associados a esses hormônios dependendo do progestagênio ativar ou bloquear o receptor (2).
Por exemplo, os progestagênios que ativam os receptores de androgênios podem causar efeitos colaterais como acne ou hirsutismo (excesso de pelos) em algumas pessoas, sobretudo quando o método contraceptivo tem um nível baixo ou nenhum estrogênio (10). O método anticoncepcional hormonal (geralmente a pílula) também pode ser usado para tratar a acne e o hirsutismo (20, 21). A reação em todas as pessoas não será a mesma, mas para algumas delas a formulação específica e o tipo de progestagênio serão importantes.
Às vezes a dose de progestagênio não é alta o suficiente ou a ligação entre o progestagênio e os receptores de progesterona não é forte o suficiente, causando sangramento ou manchas durante o uso de pílulas anticoncepcionais ativas (contendo hormônios) ou causando menstruações mais intensas (10). Às vezes, uma simples mudança na dose ou no tipo de método anticoncepcional pode melhorar esses efeitos colaterais. Pode nem sempre ser o progestagênio causando o problema. Em contraceptivos hormonais combinados, a dose de estrogênio também pode estar relacionada a certos efeitos colaterais.
Se você está tendo efeitos colaterais indesejados que acha que podem estar ligados ao seu método anticoncepcional, fale com um(a) médico(a). Usar a Clue para acompanhar seu ciclo pode ajudar você a observar se há padrões para a situação que está enfrentando e ajudar a encontrar uma solução.
Como os métodos anticoncepcionais afetam a progesterona em meu corpo?
Os níveis de progesterona durante o uso de métodos anticoncepcionais hormonais podem ser alterados se seu método anticoncepcional inibir a ovulação.
Se você não estiver ovulando, seus níveis de progesterona serão baixos e uniformes (sem pico).
Anticoncepcionais hormonais combinados e progesterona
Anticoncepcionais hormonais combinados — que incluem tanto uma forma de estrogênio quanto o progestagênio — impedem principalmente a gravidez, interrompendo a ovulação. Eles também ajudam a espessar o muco cervical (22).
A pílula e a progesterona
A progesterona é inibida em pessoas que tomam diversos anticoncepcionais orais combinados (COCs) (várias doses, tipos de progesterona e tratamentos), indicando que a ovulação normalmente não ocorre com esse método (23, 24).
O adesivo e a progesterona
Em um estudo, os níveis de progesterona em pessoas que usaram adesivos anticoncepcionais tiveram taxas mais baixas do que antes do uso do adesivo (25). O adesivo inibiu a ovulação em quase todos os ciclos em que foi usado corretamente.
O anel e a progesterona
Em um estudo com 21 usuárixs do anel anticoncepcional, os níveis de progesterona foram consistentemente baixos (em média <0,63 ng/ml) porque nenhuma ovulação ocorreu durante dois meses de uso (24).
Anticoncepcionais à base de somente progestagênio e a progesterona
A ovulação ainda pode acontecer com o uso de alguns métodos contracepcionais a base de somente progestagênios. Isso significa que os níveis de progesterona ainda poderão aumentar e diminuir no padrão típico para as pessoas que não usam métodos anticoncepcionais hormonais. As taxas de ovulação entre esse grupo variam porque, apesar de todas conterem progestagênios, elas têm tipos e dosagens diferentes, além de entrarem no corpo por vias diferentes (2). Isso afeta a quantidade de progesterona que chega efetivamente à corrente sanguínea e ao cérebro para interromper a ovulação.
O fato da ovulação poder ocorrer com esses métodos não significa que o método anticoncepcional não está funcionando. Os métodos a base de somente progestagênio também funcionam de outras maneiras, por exemplo, com o espessamento do muco cervical para impedir que os espermatozóides atinjam o óvulo (22).
O implante e a progesterona
A maioria de usuárixs de implantes contraceptivos de etonogestrel não ovulam. Entre 16 pessoas que usam implantes de etonogestrel que foram acompanhadxs por até três anos, não houve ovulação detectada até depois de 30 meses de uso, quando 2 participantes do estudo mostraram aumento nos níveis de progesterona indicativos de ovulação (26). A ovulação pode ocorrer em uma minoria de pessoas após o uso prolongado do implante, uma vez que os níveis da medicação no corpo diminuem com o tempo (27).
DIUs hormonais e a progesterona
A ovulação é comum entre pessoas que usam DIUs hormonais. Em um pequeno estudo com 10 pessoas usando o DIU de 52 mg de levonorgestrel, quase metade dos ciclos estudados durante o primeiro ano de uso foi ovulatória (28), mas esse n úmero aumenta com o tempo.
Em um estudo com 14 pessoas usando o DIU de 52 mg de levonorgestrel por 6 anos, a ovulação ocorreu em 79% dos ciclos, embora nove dos participantes do estudo não tivessem menstruações regulares (29). Independentemente de estarem menstruadxs, os níveis de progesterona para essas 14 pessoas seguiram os padrões normais de progesterona durante o ciclo menstrual, com um pico nos dias 20 a 25, com valores máximos no intervalo normal (29, 18).
Para pessoas que usam DIUs hormonais de dose mais baixa (tipos de 19,5 e 13,5 mg), a ovulação ocorre em quase todos os ciclos (22).
A injeção e a progesterona
A injeção ou injeção contraceptiva, que é uma medicação conhecida como injeção de acetato de medroxiprogesterona de depósito (DMPA), inibe a ovulação (22) e, portanto, inibe a produção de progesterona ovariana.
O nível médio de progesterona para uma pessoa usando a injeção contraceptiva é de 0,40 ng/ml, (30). Este nível é semelhante ao de uma pessoa que não está usando qualquer forma de contracepção hormonal e está na fase folicular (pré-ovulatória) de seu ciclo (18).
Pílula à base de somente progestagênio (“minipílula”) e a progesterona
Em um estudo com 43 pessoas tomando a minipílula contendo progesterona noretindrona, 60% tinham níveis baixos de progesterona sem o pico normal, demonstrando ausência de ovulação ou baixa produção de progesterona no corpo lúteo (31). Os restantes 40% das pessoas provavelmente ovularam desde que tiveram um pico de progesterona de pelo menos 5 ng/mL por um período mínimo de 5 dias, como pessoas que não estão usando um método anticoncepcional hormonal (31). A probabilidade de ovulação nesse grupo foi a mesma aos 2 meses e 6 meses de uso (32).
O que mais eu preciso saber sobre a progesterona?
Métodos baseados em progesterona e a monitorização da fertilidade
A temperatura corporal basal (TCB) é um indicador que as pessoas podem seguir ao usar um método baseado na monitorização da fertilidade para contracepção. A progesterona provoca um aumento na TCB de cerca de 0,5ºF/0,3ºC a 1,0ºF/0,6ºC (33, 34). Um aumento contínuo da TCB é um sinal de que a ovulação aconteceu.
A progesterona e a pílula abortiva
A "pílula abortiva" (mifepristona) é uma medicação antiprogesterona, o que significa que ela se liga ao receptor da progesterona, mas não o ativa (35). Isso impede que a progesterona possa exercer seu efeito normal, que no caso da gravidez inicial é dar suporte para a implantação do embrião e impedir a contração do útero.
A mifepristona é usada junto com outra medicação chamada misoprostol para induzir abortos eletivos no primeiro trimestre (35), mas também para tratar abortos espontâneos (36).