A contracepção hormonal e seu corpo
Como funcionam os métodos anticoncepcionais?
*Tradução: Mariana Rezende
A maioria das mulheres americanas e europeias usará pelo menos uma forma de anticoncepcional hormonal, ou contraceptivos, em algum momento de suas vidas (1, 2). É mais provável que tenham experimentado a pílula anticoncepcional oral (1, 2) e cerca de duas em cada 10 mulheres americanas e europeias atualmente usam anticoncepcionais orais (1 — 3).
Os anticoncepcionais hormonais são muito eficazes na prevenção da gravidez indesejada (4). Entre zero a nove em cada 100 pessoas que confiam nesses métodos engravidarão ao longo de um ano, dependendo da forma de anticoncepcional hormonal que usam (4). Esse número é menor em pessoas que fazem o uso perfeito de anticoncepcionais hormonais. Em comparação, 18 em cada 100 pessoas que dependem de preservativos masculinos engravidam ao longo de um ano (4). O implante é a forma mais eficaz de contraceptivo hormonal (4) e é normalmente colocado em seu braço pelo seu prestador de cuidados de saúde. Menos de uma em cada 100 pessoas que usam este método engravidarão ao longo de um ano (4).
Embora os contraceptivos hormonais sejam altamente confiáveis para prevenir a gravidez, cerca de metade e três quartos das mulheres americanas que usaram contraceptivos hormonais relataram efeitos colaterais que as fizeram parar de usá-los (1). Cerca de dois a quatro em cada dez usuários de contraceptivos hormonais da Europa Ocidental relataram parar devido a efeitos colaterais ou se preocupar com os efeitos na saúde (2).
Se você optar por usar um contraceptivo hormonal ou não hormonal, é importante considerar o quão eficaz, fácil, benéfico ou prejudicial cada método pode ser para você. Nem todas as formas de contraceptivos hormonais funcionam da mesma maneira, portanto, você pode encontrar métodos que se adaptem melhor a você. Métodos anticoncepcionais não hormonais são outra possibilidade para prevenir uma gravidez indesejada. Ambas as formas de contracepção hormonal e não hormonal têm benefícios e riscos.
Usar um aplicativo rastreador do ciclo menstrual como o Clue para acompanhar seus sintomas e efeitos colaterais pode ajudar você a discutir suas opções com médicos(as) e seu provedor de saúde.
A biologia da contracepção hormonal
Os métodos contraceptivos podem ser classificados como não hormonais ou hormonais. Os métodos de contracepção não hormonais, como preservativos ou o dispositivo intrauterino de cobre (DIU), não alteram os níveis naturais ou funções dos hormônios no corpo (4).
No entanto, contraceptivos hormonais alteram os níveis normais de estrogênio, progesterona e outros hormônios (4).
*Este gráfico é baseado em um tipo genérico de pílula anticoncepcional hormonal combinada ao longo do ciclo. Na realidade, os níveis hormonais sobem e descem na medida em que as pílulas são tomadas diariamente, e pílulas diferentes contêm uma composição hormonal diferente.
Os contraceptivos hormonais geralmente contêm formas alternativas de estrogênio e/ou a forma sintética da progesterona chamada progestagênio (3,4).
As pessoas que usam as formas mais comuns de contracepção hormonal não ovulam. Esses métodos interrompem os padrões habituais de produção de hormônios reprodutivos e impedem que os ovários liberem óvulos. Eles fazem isso interrompendo ou mudando o “ciclo” hormonal normal. As exceções incluem a minipílula e o DIU de levonorgestrel. Esses métodos funcionam de maneira diferente, mas ainda impedem a ovulação em algumas pessoas (5).
Contraceptivos hormonais que incluem estrogênio e progestagênio são:
Anticoncepcionais orais combinados
Anel vaginal hormonal
Adesivo anticoncepcional (4)
Contraceptivos hormonais à base de somente progestagênio são:
Pílulas à base de somente progestagênio (a "minipílula")
Injeção anticoncepcional (normalmente sob o nome da marca Depo-Provera)
Hastes anticoncepcionais implantáveis (o "implante")
DIU de levonorgestrel (LNG) (4,6)
O contraceptivo de emergência (a "pílula do dia seguinte") também afeta os níveis normais de estrogênio e progesterona, seja aumentando a quantidade desses hormônios ou interferindo nas proteínas que interagem com esses hormônios (4, 6, 7). A contracepção de emergência funciona principalmente bloqueando a ovulação – é importante reforçar que ela não interrompe a gravidez caso ela aconteça (8).
Não é recomendado para uso como método contraceptivo primário (4), mas é recomendado em circunstâncias em que a contracepção falhou, foi usada de maneira imprópria ou não foi usada nenhuma contracepção para a prevenção da gravidez. O uso da contracepção de emergência, conforme necessário, é seguro e é eficaz na prevenção da gravidez, se tomado no prazo de 3 a 5 dias, embora deva ser tomado o mais rapidamente possível (9).
Efeitos colaterais físicos dos anticoncepcionais
Quem toma contraceptivos hormonais relata efeitos colaterais positivos e negativos.
O sangramento menstrual é diferente durante o uso de grande parte dos tipos de contracepção hormonal, incluindo anticoncepcionais orais combinados. O sangramento muda da descamação típica do revestimento uterino para um sangramento semelhante à menstruação, chamado sangramento de retirada. O sangramento de retirada acontece na semana em que os comprimidos não contêm hormônios ou no momento em que um adesivo ou anel vaginal é removido. Como o sangramento de retirada tende a ser mais leve que o sangramento menstrual normal, os anticoncepcionais hormonais podem reduzir o fluxo menstrual (10). Pessoas que têm um fluxo intenso, prolongado e/ou anemia/deficiência de ferro relacionadas à menstruação podem se beneficiar de anticoncepcionais hormonais (10). Esses métodos também podem reduzir as dores menstruais, incluindo a dor causada pela endometriose (10).
As pessoas também podem optar por usar anticoncepcionais hormonais para alterar a regularidade da menstruação. A regulação menstrual é uma das principais razões pelas quais as pessoas recebem indicações de uso para anticoncepcionais hormonais além da anticoncepço (11). As pessoas podem usar essa forma de contracepção para tornar as menstruações mais regulares, induzi-las ou induzir a amenorreia intencional (ou seja, a ausência de menstruação) (11). Isso pode ser particularmente útil para pessoas com problemas reprodutivos crônicos, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP) (12).
Os anticoncepcionais hormonais podem afetar sua pele. Os anticoncepcionais orais combinados são recomendados para o tratamento da acne (10, 13), sobretudo devido aos efeitos do estrogênio na redução da acne. Por outro lado, o desenvolvimento de acne, melasma ou alterações negativas no aspecto da pele também são efeitos colaterais comuns da contracepção hormonal (14, 15). Estes efeitos negativos parecem estar mais relacionados com a minipílula, por isso a mudança para anticoncepcionais orais combinados ou outros métodos de contracepção hormonal combinados pode ajudar a resolver esses problemas.
Náuseas, dores de cabeça e sensibilidade mamária também são sintomas geralmente relatados como efeitos colaterais (14, 16), embora haja evidências que sugerem que esses efeitos colaterais são mais fortes em quem toma anticoncepcionais há pouco tempo, mas diminuem com o tempo (14, 17). Contraceptivos hormonais também podem reduzir a sensibilidade mamária com o uso a longo prazo (14).
Ganho de peso e alterações da libido (desejo sexual) são preocupações para muitas pessoas que tomam contraceptivos hormonais (14, 16). No entanto, além da injeção anticoncepcional, que descobriu-se aumentar o peso em quem a usa (14), a maioria das pesquisas sugere quem toma contraceptivos hormonais comumente sente pouca ou nenhuma mudança (14). Algumas pessoas podem notar que sua libido está mais alta ou mais baixa no geral, embora muitas pessoas não relatem nenhuma mudança (18). Flutuações hormonais em um ciclo típico também tendem a criar momentos de libido mais alta e mais baixa (um impulso sexual mais alto é comum até a época da ovulação) – a supressão hormonal que ocorre com a maioria dos contraceptivos hormonais significa que esses picos e quedas desaparecerão ou mudarão (19).
Caso sinta que seu anticoncepcional hormonal esteja causando efeitos colaterais desconfortáveis, fale com seu prestador de cuidados de saúde. Eles podem recomendar a mudança para um anticoncepcional com uma composição química diferente.
Efeitos colaterais emocionais dos anticoncepcionais
O ciclo menstrual normal afeta o cérebro. Proteínas especiais nas células respondem a substâncias químicas específicas para progesterona e estrogênio, também conhecidas como receptores, e são encontradas em muitas regiões do cérebro. Estas regiões incluem a amígdala, que regula a agressividade e o medo, e o hipocampo, que tem funções importantes para o processamento e o armazenamento da memória (20).
A progesterona e o progestagênio reduzem indiretamente a quantidade de serotonina, um importante neurotransmissor regulador do humor, no cérebro (21). Acredita-se que o progestagênio dos contraceptivos hormonais possa causar alterações de humor (21). No entanto, apesar da possibilidade teórica, não é fácil comprovar se os contraceptivos hormonais causam alterações no humor.
A relação entre contraceptivos hormonais e depressão (21, 22) tem sido foco de muitas pesquisas. Em um estudo recente com mais de um milhão de mulheres dinamarquesas entre 15 e 34 anos, pesquisadores descobriram que mulheres que usavam contraceptivos hormonais eram mais propensas a tomarem antidepressivos ou serem diagnosticadas com depressão do que mulheres que não usavam contraceptivos hormonais (21). Por exemplo, as mulheres que usaram o adesivo contraceptivo tinham duas vezes mais probabilidade de tomarem um antidepressivo do que as mulheres que não usavam contracepção hormonal, enquanto as mulheres que usavam a minipílula tinham 1,34 mais probabilidade (21). O risco para as mulheres que tomaram anticoncepcionais orais combinados foi menor do que as de minipílula, mas ainda significativamente maior do que as não usuárias de contracepção hormonal (21).
Apesar dessa forte evidência, a relação entre depressão e contracepção hormonal não é clara e provavelmente funciona de forma diferente para pessoas diferentes. E mesmo no caso de um risco alto, o risco total ainda pode ser muito pequeno.
Para pessoas com [síndrome pré-menstrual (TPM), transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) ou transtorno depressivo maior (TDM), a contracepção hormonal, particularmente os anticoncepcionais orais, pode causar mudanças positivas em seu humor (10, 22).
Anticoncepcionais e câncer
As pessoas que usam anticoncepcionais orais não alteram o risco (e podem ter um risco menor) de miomas, câncer colorretal, câncer de ovário e câncer endometrial (10). Em contraste, o uso de anticoncepcionais orais tem sido associado ao desenvolvimento do câncer de mama (10, 23). As pessoas que usaram anticoncepcionais orais por muitos anos podem ter um maior risco de terem câncer de mama, enquanto o uso a curto prazo parece não ter nenhum efeito sobre o risco de câncer de mama (10, 23). As pesquisas sobre o tema são mistas. Diferentes formulações de anticoncepcionais orais podem ter efeitos diferentes no risco de câncer de mama e certos grupos de pessoas, como aquelas com histórico familiar de câncer de mama, que podem ter um risco maior em comparação àquelas sem esse histórico (10, 23, 24).
Efeitos colaterais cardiovasculares dos anticoncepcionais
O uso de anticoncepcionais hormonais apresenta o potencial de efeitos colaterais cardiovasculares graves (3, 14, 25 – 30), embora essas complicações sejam raras.
O uso de contraceptivos hormonais também está associado a alterações na função metabólica normal. O uso de anticoncepcionais orais combinados está ligado a mudanças nos níveis normais de aminoácidos, ácidos graxos (lipídios), vitamina D, marcadores de inflamação e insulina no corpo (3), além de alterar os níveis normais de estrogênio e progesterona em seu corpo. Algumas dessas alterações, como os marcadores de inflamação, estão ligadas ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares ou acidentes vasculares cerebrais (3). Essas mudanças tendem a desaparecer depois da interrupção do uso dos anticoncepcionais orais (3).
Por outro lado, a minipílula parece não ter relação com os processos metabólicos (3), o que sugere que essas mudanças estão associadas ao estrogênio ou que a progesterona precisa de estrogênio para criar mudanças no corpo.
As pessoas que tomam contraceptivos hormonais têm um risco mais alto de terem coágulos sanguíneos, clinicamente referidos como tromboses, em suas veias (25 – 28). Esse risco pode ser variar de acordo com o tipo de estrogênio e a quantidade de progestagênio (25). Derrames e ataques cardíacos estão relacionados ao aumento do risco de coágulos sanguíneos, já que tanto os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos quanto os trombóticos têm maior probabilidade de acontecer em quem toma anticoncepcionais orais do que em quem não toma anticoncepcionais orais (29, 30).
Apesar do aumento dos riscos, a probabilidade de uma pessoa desenvolver um problema de saúde grave com o uso normal de contraceptivos hormonais é baixa. A pessoa pode ter um risco maior, mas ainda assim é um risco baixo.
Por exemplo, o risco máximo de coágulos sanguíneos em usuárias de anticoncepcionais orais é estimado em cerca de nove a 11 coágulos em 10.000 anos, dependendo da composição química do anticoncepcional oral (27). Embora esse risco seja de duas a dez vezes maior do que o de não usuárias de anticoncepcionais orais, o risco de desenvolver coágulos sanguíneos no pós-parto nos três meses depois do parto é quatro vezes maior do que o risco em pessoas que usam anticoncepcionais orais (27).
Existem fatores de risco que podem aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver um efeito colateral grave com o uso de contraceptivos hormonais. Pessoas que são obesas, fumantes, têm mais de 35 anos de idade ou deficiências vitamínicas estão em uma situação de maior risco (26, 27). Adicionalmente, algumas pessoas que têm SOP juntamente com outros fatores de risco metabólicos também podem ter um risco maior (12, 31). Se você não tiver certeza se corre um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares ou coágulos sanguíneos enquanto estiver usando contraceptivos hormonais, fale com um profissional de saúde.
Conclusão
Para muitas pessoas, a contracepção hormonal é segura e muito eficaz na prevenção da gravidez com efeitos colaterais mínimos a inexistentes. Muitas pessoas também podem sentir efeitos colaterais positivos dos contraceptivos hormonais e, às vezes, esses efeitos colaterais positivos são a principal razão pela qual elas tomam o anticoncepcional.
Outras pessoas podem achar que a contracepção hormonal não é uma boa opção para elas. Se você sentir que seu contraceptivo hormonal pode representar um risco para sua saúde ou está causando efeitos colaterais negativos ou depressão, fale com um profissional de saúde. Como nem toda contracepção hormonal tem a mesma quantidade de estrogênio ou progestagênio, é possível que você seja mais feliz usando algum tipo ou marca específicos.
Embora se pense não haver diferença entre os ingredientes ativos nos contraceptivos hormonais genéricos e os de marca, é possível que seu corpo responda de maneira diferente a um anticoncepcional de marca ou a um genérico devido aos ingredientes inativos e, deste modo, os profissionais de saúde ainda recomendam que a prescrição seja feita com base em preferência pessoas (32).
Você é a pessoa mais indicada para defender a própria saúde, por isso é importante observar com clareza e honestidade as suas necessidades, sejam elas a prevenção da gravidez ou a gestão de outros problemas. Suas necessidades podem ser melhor atendidas usando contraceptivos hormonais, mas também pode ser que os riscos não superam os benefícios para você.
O Clue app pode ajudar você a acompanhar os sintomas que os contraceptivos hormonais podem tratar ou causar. A melhor maneira de se tornar uma pessoa defensora da própria saúde é conhecer seu corpo.
O Clue app pode ainda ajudar você no uso de seus anticoncepcionais hormonais. Você pode usar o Clue para ajudar a lembrar de muitas coisas, entre elas, tomar a pílula, verificar o fio do DIU, substituir o adesivo ou tomar a injeção hormonal para se proteger melhor de uma gravidez indesejada.