Como contar a parceiros(as) que você tem uma infecção sexual (IST)?
*Tradução: Jade Augusto Gola
Nota: em 2016 no Brasil foi alterada a designação costumeira de DST (Doença sexualmente transmissível) para IST (Infecção sexualmente transmissível), seguindo protocolo da Organização Mundial de Saúde.
Há muita desinformação e estigma sobre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), e muitas vezes é um tópico difícil de conversar. Mas precisamos tocar no assunto.
As infecções sexuais são comuns, especialmente entre adolescentes e jovens adultos com vida sexual ativa. Numa pesquisa nacionalmente representativa feita nos Estados Unidos, 24% das garotas adolescentes testadas tinham alguma IST, mais comumente o vírus do papiloma humano (HPV), que costuma não apresentar sintomas (1).
Discutir abertamente sobre nossa saúde sexual não é algo que nos ensinam, mas é uma parte importante do autocuidado e zelo com quem nos relacionamos. É importante desmistificar as vergonhas desnecessárias e os estigmas associados com as infecções sexuais, tabus que causam um aumento das infecções ao evitar que as pessoas busquem tratamento, afetando sua saúde e qualidade de vida (2). Pesquisas já ilustraram que pessoas que são mais abertas a falar sobre o status de suas ISTs para parceiros(as) têm sentimentos muito mais positivos em relação a sua sexualidade em comparação a quem não conversa sobre ISTs (3).
Mas como falar com seu(ua) parceiro(a) que você tem uma infecção sexual? Veja a seguira uma lista com dicas.
1. Teste-se para infecções sexuais
É possível ter uma infecção sexual sem você saber. A maioria das ISTs são transmitidas nestas situações em que não temos sintomas; as pessoas não percebem que estão infectadas. E algumas infecções, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), não aparecem em testes meses após o contágio e mesmo assim já podem ser transmitidas para os outros. Então é sempre uma boa ideia testar-se antes de qualquer relação sexual e depois novamente após alguns meses, praticando sexo seguro no meio tempo. Se seus testes vierem negativos, ótimo. Mesmo assim ainda é importante conversar com parceiros(as), paqueras ou flertes sobre seus hábitos sexuais e sobre sexo seguro, além de testar-se novamente depois de algum encontro. Mas e se algum exame de infecção sexual vier positivo? Veja a seguir como proceder.
2. Não fuja dos fatos!
Não acredite em tudo que você escuta por aí sobre infecções sexuais. Faça alguma pesquisa sobre sintomas, tratamentos e como as infecções podem ser transmitidas. Lembre-se que muita gente tem infecções sexuais e não sabe, então se você sabe seu status e tem seus encontros com responsabilidade, a chance de passar infecções é baixa.
3. Converse com parceiros(as) antes do sexo (e, se você tiver herpes, antes dos beijos)
O melhor momento para esta conversa é antes da prática sexual (sexo oral incluso). Dependendo de qual IST você tenha, talvez seja necessário tocar no assunto ainda antes: se você tem herpes oral, é bom avisar antes dos bejios. Se você está portando uma infecção genital, é importante comunicar o fato antes de qualquer tipo de sexo: oral, vaginal, anal ou até mesmo brincadeiras com os dedos.
Tanto em um encontro casual como numa relação séria, é importante discutir a saúde sexual com parceiros(as) e perguntar a eles(as) sobre o tema. Isso permite a você descobrir se a pessoa com quem você está se relacionando tem alguma infecção sexual transmissível e dá a vocês melhores chances de tomarem decisões informadas sobre qual tipo de sexo vocês querem ter e que medidas tomar para o sexo ser ainda mais seguro.
4. Decida como você quer se comunicar
Se você decidiu ter uma conversa franca sobre o tema, escolha um lugar ou contexto em que você sinta-se confortável para tal discussão. Se possível, tenha em mente uma saída próxima para deixar a discussão e afastar-se caso a reação da outra pessoa é negativa, agressiva e te faz sentir-se em perigo.
Se você não puder encontrar pessoalmente ou não sente-se segura para tanto, você pode ainda mandar uma mensagem de texto ou ter uma chamada em vídeo com a outra pessoa. Tudo depende da relação de vocês e como você prefere se comunicar.
5. Prepare-se para a conversa
Tenha a conversa em uma hora e lugar em que você sinta-se confiante, especialmente se você não sabe como o papo irá acabar. Uma boa ideia é encontrar alguma(o) amiga(o) depois da conversa, para suporte. Algumas pessoas querem abordar o tema rapidamente, outras preferem fazê-lo depois de alguns encontros (não sexuais, é claro), para assim conhecer melhor a outra pessoa antes. Isso depende de você e do quão rápido você quer ter sexo.
6. Abra o tema para discussão
Uma boa maneira de começar é dizendo que você se importa com ele(a) e que deseja que tudo aconteça da maneira mais segura, por proteção. Pergunte de maneira franca sobre o histórico de saúde sexual dele(a), se ele(a) já teve uma IST ou tem alguma no momento. Você pode também, de maneira direta, dizer que está com uma infecção sexual e perguntar se ele(a) tem alguma dúvida ou quais são os receios. Essa é a hora de estipular quais serão, deste modo, as medidas para vocês terem sexo seguro; ou conversar sobre tratamentos, medicação e como lidar com a infecção.
É normal ter vergonha, mas vocês se sentirão melhor quando desenrolarem o assunto de uma vez. E seu(ua) parceiro(a) pode sentir alívio e gratidão por você ter tocado no assunto.
Essa conversa também é uma chance para você aprender mais sobre o histórico sexual de parceiros e parceiras. A seguir, algumas questões pertinentes para perguntar numa conversa sobre saúde sexual com parceiros(as).
Perguntas a serem feitas:
Você sabe se tem alguma infecção sexual transmissível (IST) no momento?
Quando foi a última vez em que você testou-se para ISTs?
Você sempre usa preservativos?
Você já compartilhou seringas com alguém ao usar drogas ou para tatuagens ou piercings?
Você já teve infecções sexuais anteriormente? Quais? Você as tratou?
Você ou algum de seus(as) parceiros(as) têm alguma IST no momento?
Você está tendo sexo desprotegido com alguém?
Seu(a) parceiro(a) ou "date" pode até mentir sobre o status de suas ISTs, mas ao menos você perguntou. De fato, a reação deles(as) ao discutir o tema te ajudará a conhecer melhor essa(s) pessoa(s). Se a outra pessoa mostra-se muito resistente a conversar sobre o assunto, isso pode afetar sua decisão sobre vocês terem sexo.
7. Antecipe as possíveis reações
Seu(ua) parceiro(a) pode agradecer-te por tocar no assunto, dizer que isso não muda nada no que há entre vocês e até impressionar-se por você ter tocado no assunto. Uma reação nesse sentido pode até fazer você gostar mais dele(a).
Mas também é possível que a reação não seja tão boa. Talvez ele(a) possa expressar surpresa e descontentamento ("não pode ser verdade!") ou até mesmo medo ("mas o que você vai fazer a respeito?"). É possível também que ele(a) reaja com julgamentos ("você está tendo sexo por aí?") e até mesmo rejeição ("eu não quero estar contigo se você tem uma infecção").
Talvez você sinta-se mal com algumas dessas reações ao contar sobre seu status de IST. Você pode escolher responder com os fatos, dizendo que a reação dele(a) foi desinformada ou moralista, mas também é compreensível se você não quiser dizer nada em resposta. Você pode deixar para lá e tocar no assunto depois. Talvez ele(a) tenha uma atitude depois de algum tempo refletindo sobre a conversa.
Mas se você não gostou de maneira nenhuma da reação e não quer manter mais nenhum contato, também é a sua decisão. Lembre-se que as reações de parceiro(as) e pretendentes dizem mais a respeito deles do que de você. Tome algum tempo para pensar no que é bom para você e no que te faz sentir bem, refletindo individualmente ou com amigos e/ou familiares.
8. Orgulhe-se de ter feito a coisa certa!
Pode ser assustador abrir-se e sentir-se vulnerável ao compartilhar algo sobre sua intimidade como o histórico sexual. É uma conversa difícil de ter, então orgulhe-se de você por dar esse papo em relação à sua saúde, não importando a reação de seu(ua) parceiro(a). A única maneira errada de comunicar a alguém que você tem uma infecção sexual transmissível é não dizendo absolutamente nada, mantendo mitos e dúvidas sobre o tema.
Baixe o Clue para monitorar menstruação, libido e saúde geral.