Arte: Marta Pucci

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Aprenda a se prevenir de ISTs no sexo lésbico

Com segurança é ainda mais gostoso.

Apesar dos avanços da medicina moderna e da quebra de certos tabus comportamentais, o sexo entre mulheres, ou entre duas pessoas que têm vagina, possui poucas ferramentas disponíveis de proteção. Isso acontece porque, para os pênis, o uso de camisinha garante tranquilidade evitando a transmissão da maioria das ISTs (Infecções sexualmente transmissíveis) conhecidas.

Quando duas pessoas que têm vulva transam, a situação se complica em algumas situações pontuais como a posição da tesoura (vulvas encaixadas), porque o contato entre mucosas pode transmitir infecções e não há no mercado dispositivos de proteção para todas as mucosas femininas.

Para as ginecologistas Daniela Donação Dantas e Luiza Cadioli, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde (CFSS), um dos grandes desafios é pensar no assunto de uma maneira não moralizante e não medicalizadora. “Quando falamos em sexualidade, é mais interessante pensar em sexo mais seguro, porque a segurança total ainda não é garantida”, afirma Daniela. Missão difícil, mas não impossível.

Conhecendo os métodos de proteção

De acordo com Cadioli, as infecções como herpes, HPV, sífilis, clamídia e gonorreia diminuem sua transmissão no sexo com preservativo, mas não zeram. No sexo entre mulheres (vulva-vulva ou boca-vulva) a transmissão de HIV e Hepatite B têm baixa incidência. Já herpes, HPV e sífilis, podem ocorrer, mas não há dados suficientes sobre taxas de contágio. “O Ministério da Saúde indica que a maior taxa de transmissão no contato de mucosas é para sífilis. De qualquer forma, há tratamento simples para herpes, HPV, sífilis, clamídia e gonorreia”, explica a especialista. Se há o desejo de proteção, estas são as opções mais eficazes: (1,2)

Vulva-boca

Neste tipo de contato sexual desprotegido, existe risco de contágio para clamídia, gonorréia, HPV, herpes, sífilis, HIV e tricomoníase (2).

A proteção mais viável é o dental dam, uma folha de látex com tamanho aproximado de 15x15 cm. Ele pode ser usado como uma barreira entre a boca e a vulva durante o sexo oral. Como nem sempre está disponível em farmácias ou em postos de saúde, uma boa alternativa é cortar um preservativo masculino na extremidade que apertamos para desenrolá-lo e, em seguida, na lateral (veja aqui como cortar uma camisinha). Ao esticá-lo, temos uma boa cobertura que serve como barreira entre língua e vulva (3).

Vulva-vulva

Aqui, os riscos de contágio sem proteção incluem HPV, herpes, sífilis, cancroide, clamídia, gonorréia, HIV e verrugas genitais (2). Neste caso, não há uma proteção de barreira realmente eficaz entre as mucosas. A prática mais segura é manter relações exclusivas e fazer testes de ISTs regularmente, além de observar sempre a incidência de feridas e verrugas, além de ter atenção aos hábitos de higiene local.

Dedo-vulva, dedo-ânus, fisting

Quando há contato entre o sangue das parceiras, causado geralmente por cortes ou machucados, existe a possibilidade de transmissão de HIV, hepatite B ou C caso os dedos sejam inseridos em uma e outra parceira sem a devida higienização. Lavar as mãos sempre antes e depois de inserir o dedo na parceira é uma das alternativas. Para ter segurança extra, pode-se usar luvas (3).

Brinquedos sexuais

Não existem pesquisas científicas que comprovem exatamente quais são os riscos de transmissão de ISTs no compartilhamento de vibradores e bullets entre parceiras. Por conta dos fluídos que se mantêm nos produtos, é recomendado higienizá-los com álcool 70% antes da inserção em uma parte diferente do corpo (ao alternar entre vulva e ânus, por exemplo) e também antes de revezar com a parceira. Além disso, é mais seguro revestí-los com um novo preservativo masculino a cada vez que haja o revezamento.

Visitas periódicas ao ginecologista são, sem dúvida, um dos pontos-chave para a manutenção da saúde sexual de mulheres que transam com mulheres. É a partir deste tipo de controle que podemos tomar precauções como não manter relações sexuais quando há o diagnóstico de lesões ativas de herpes, HPV ou sífilis.

Comportamentos de risco

De acordo com o Ministério da Saúde, há estudos que comprovam a transmissão do HIV entre mulheres (4). O mais recente, publicado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) em março de 2014, comprovou a transmissão do HIV entre mulheres por diversas evidências. O compartilhamento de acessórios e o contato sanguíneo (seja por menstruação ou por feridas abertas) foram indicados como as possíveis formas de transmissão (1). No entanto, ainda persiste uma crença na não-vulnerabilidade de lésbicas ao HIV.

Para o órgão, é importante frisar que não há grupos de risco, mas é importante refletir sobre quais comportamentos de risco podemos ter. Com relação às lésbicas e bissexuais femininas, alguns estudos têm demonstrado que o uso de álcool e outras drogas colaboram para a ocorrência de sexo não seguro entre mulheres. (4)

Isso acontece porque o uso das substâncias pode afetar negativamente nossa tomada de decisões protetivas. O uso de álcool e drogas, nesse caso, também facilita a prevalência aumentada de algumas ISTs, inclusive vaginose bacteriana, que não é considerada uma infecção. Ainda que a vaginose não seja considerada IST (ela se manifesta devido a um desequilíbrio da flora vaginal), pesquisadores apontam que a prática sexual oro-genital ou vagina com vagina pode levar bactérias de uma mulher para outra, dentre elas a Gardnerella e um desequilíbrio da flora vaginal, causando a vaginose (5).

Algumas infecções genitais não são ISTs porque o contágio não é sexual. Bom exemplo é a candidíase, como explicam as ginecologistas do CFSS. Causada por um desequilíbrio no pH vaginal - que pode ter se originado do uso de antibióticos, de uma alimentação muito rica em açúcar ou farinha de trigo, além do uso de roupas apertadas e molhadas - a candidíase pode ser evitada com cuidados nesse sentido. Caso você note qualquer sintoma do tipo, é fundamental buscar ajuda médica.

A importância do autocuidado

Tendo em conta que o sexo lésbico ainda é muito pouco estudado no meio científico (vide a falta de aparatos específicos de proteção contra as ISTs, como é o caso da camisinha masculina -- que pode ser usada inclusive no sexo oral), a responsabilidade de se cuidar ainda é redobrada no caso do sexo entre pessoas que têm vagina, já que as soluções de proteção são quase “gambiarras” em comparação com o preservativo, seja ele feminino ou masculino.

Muitas vezes, lésbicas e pessoas com vulva que transam entre si não fazem exames de rotina com frequência por causa da crença de que não há muito risco para câncer do colo do útero, por exemplo.

A desinformação ainda é grande entre muitos profissionais de saúde (6). Então, mesmo que você não tenha sexo com homens, é fundamental fazer exames como o papanicolau com a mesma frequência que qualquer mulher faria, independentemente da sua orientação sexual.

Conhecer os riscos reais sobre as ISTs e as opções para preveni-las é o melhor caminho para que tenhamos transas mais relaxadas, prazerosas e seguras. O sexo, afinal de contas, é sobre prazer e cuidado - com a gente e com o outro. Assim, tudo fica mais gostoso.

[Leia agora: Preservativos femininos versus preservativos masculinos]

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