Qual a diferença entre embrião, feto e bebê?
Entenda os diferentes estágios do desenvolvimento de uma gravidez
*Tradução: Jade Augusto Gola
Coisas importantes a saber:
A fase embrionária começa com a fertilização e dura oito semanas
A fase fetal é da 10ª semana da gravidez (contando do começo da última menstruação) até o parto
Uma transição rápida e complexa acontece no parto: de um feto dependente para um neonato independente
A linguagem que usamos para descrever a gravidez e o desenvolvimento do embrião e do feto é importante. Infelizmente, a linguagem tornou-se parte da luta para acesso ao aborto
Você provavelmente já escutou alguém falar sobre o "bebê" sobre uma pessoa gestante, mas há termos específicos que descrevem os diferentes estágios da gravidez. Quando um óvulo e um espermatozoide se encontram, um zigoto é formado e logo ele começa a dividir-se para tornar-se um embrião. No decorrer da gravidez o embrião torna-se um feto. O feto torna-se então um neonato (ou recém-nascido) após o parto. Pode não ser comum ouvir gestantes falar sobre "embriões" ou "fetos" nestes termos —de fato, nós podemos escolher as palavras com as quais nos sentimos mais confortáveis. Mas um melhor e correto entendimento dos desenvolvimentos embrionário e fetal pode expandir nossas escolhas de palavras e termos.
Em que estágio da gravidez estou?
Inicialmente, é importante entender como são medidas as diferentes etapas da gravidez. A idade gestacional geralmente é medida em semanas para o embrião ou o feto. Quando alguém diz que está grávida de 15 semanas, por exemplo, essa é a idade gestacional de seu feto.
Num contexto clínico, como quando você vai a um(a) médico(a), a idade gestacional é medida do primeiro dia da última menstruação, pois esta é uma data tipicamente fácil de estabelecer para gestantes (1, 2). Para embriologistas (profissionais que estudam o desenvolvimento de embriões), a idade gestacional é baseada ao redor da fertilização (2).
A data exata de fertilização é geralmente mais difícil de identificar (exceto em caso de tecnologias de reprodução assistida, como a fertilização in vitro). A fertilização geralmente ocorre cerca de 12 horas após a ovulação (2). O tempo da ovulação durante o ciclo menstrual pode variar, mas o método clínico de determinação da idade gestacional assume que ele ocorre no 14º dia de um ciclo de 28 dias (1). Mas tal suposição pode, naturalmente, ser incorreta pois há uma variedade de durações típicas de ciclos menstruais. E o dia da ovulação pode variar entre ciclos, inclusive para uma mesma pessoa.
Isso cria uma discrepância de cerca de duas semanas entre a idade de fato de um embrião (que começa com a fertilização) e como estimamos essa idade a partir da última menstruação de gestantes. Neste artigo, trataremos de idade gestacional baseada no tempo da última menstruação. Isto significa que você está duas semanas grávida quando torna-se gestante, a não ser que isto seja indicado de outra forma.
O que é um embrião?
A fertilização ocorre quando um espermatozoide adentra um oócito maduro (a célula conhecida como óvulo) (2). O DNA de essas duas células se combinam, formando um zigoto (2). O zigoto divide-se repetidas vezes em células embrionárias menores.
Quando o embrião divide-se de 12 a 16 células, chama-se uma mórula (2). Cerca de quatro dias após a fertilização, a mórula aproxima-se da cavidade uterina (dentro do útero) e desenvolve o blastocélio, uma bolsa de fluidos cercado por células (3). O embrião agora é chamado de blastocisto (2).
Cerca de seis dias após a fertilização, o blastocisto tipicamente acopla-se ao endométrio (o revestimento uterino) e ao longo dos dias seguintes ele escava através do endométrio para poder absorver os nutrientes disponíveis (2). Gestações bem sucedidas são implantações que acontecem após essas escavações — a janela de implantação, que é a fase receptiva do endométrio. Isso costuma acontecer de 5 a 6 dias após a ovulação e termina de 3 a 4 dias depois (3). Ao fim da terceira semana de gestação (contando desde a última menstruação), o embrião está recebendo nutrientes pelo sangue da pessoa gestante (2). O embrião (e posteriormente o feto) depende deste sangue da gestante, carregado de oxigênio e nutrientes e que chega pela placenta. A placenta é um órgão especialmente formado a partir de uma camada da célula do blastocisto chamada trofoblasto (3). A placenta é um importante órgão formado dentro do útero durante a gravidez e que tem diversas funções, como trazer nutrientes e oxigênio para o embrião e o feto e também para transportar descartes e dióxido de carbono para fora, através do cordão umbilical (2). A placenta também produz hormônios que mantêm a gestação, que interferem em mudanças no corpo e que provêm o que o feto necessita para crescer e se desenvolver (3). Normalmente, a placenta dura por toda a gravidez e será expelida para fora do útero em um parto vaginal ou será removida durante um parto de cesárea, quando o feto nasce.
O estágio embrionário dura oito semanas após a fertilização ocorrer (2). Isso é a mesma coisa que dizer que o estágio embrionário dura até alguém estar 10 semanas em uma gestação, a contar do começo da última menstruação.
Marcos do estágio embrionário (2):
Semana 3: a implantação ocorre
Semana 4: o sistema nervoso central começa a ser formado
Semana 5: a atividade cardíaca começa; coração, olhos, orelhas e botões dos membros superiores (braços) começam a se formar
Semana 6: botões dos membros inferiores (pernas) começam a se formar, assim como as mãos e os pés
Semana 7: os dedos aparecem
Semana 8: formam-se as pálpebras
Semana 9: as genitálias externas começam a se diferenciar
O que é um feto?
O estágio fetal começa na 10ª semana após a última menstruação e dura até o nascimento (2). No começo dessa fase, todos os órgãos principais já se formaram, mas ainda não estão maduros (2). Desse ponto em diante, o feto irá, essencialmente, crescer e desenvolver seus tecidos.
Não há um tempo exato da "viabilidade" fetal (a habilidade de sobreviver fora do útero), mas um feto que tem ao menos 24 semanas pode ser "viável" (sobreviver) se for dado cuidado intensivo após o parto. Antes da idade gestacional de 30 semanas, um feto é menos propenso a sobreviver do que um feto mais velho pois seus pulmões e cérebro não estão maduros (2).
Marcos do estágio fetal (2):
Semanas 10 a 13: o feto está passando por rápido crescimento; os rins começam a produzir urina
Semanas 14 a 17: a genitália externa está formada, os movimentos dos membros estão coordenados e iniciam-se os movimentos dos olhos
Semanas 18 a 21: sobrancelhas e cabelo da cabeça ficam visíveis; formação da vagina e do útero fetal
Semanas 22 a 26: o feto está ganhando peso e as unhas aparecem
Semanas 27 a 30: os pulmões e o cérebro desenvolvem-se ao ponto de que o feto poderia sobreviver se nascer e receber cuidado intensivo; as pálpebras estão abertas, as unhas dos pés estão visíveis e o feto está engordando
Semanas 31 a 35: as pupilas respondem à luz
Semanas 36 a 40: o feto tem uma pegada firme e está engordando cerca de 14 gramas de gordura por dia
O que é um neonato?
A transição de um feto para um recém-nascido (também chamado de neonato)—etapa que acontece no parto—é complexa e deve acontecer rapidamente para o neonato poder sobreviver independentemente (4). O feto prepara-se para esta transição produzindo hormônios no parto, como cortisol, adrenalina e hormônios da tireoide, que irão permitir que o neonato rapidamente possa manter níveis normais de açúcar no sangue, assim como níveis normais de temperatura e de pressão sanguínea (5, 6).
Os sistemas nervoso e cardiovascular do neonato também passam por uma elaborada transição. O sistema circulatório fetal tem conexões extras que permitem que o sangue oxigenado, recebido da placenta através do cordão umbilical, alcance o cérebro e o coração em desenvolvimento, contornando os pulmões. Após o parto, quando o neonato começa a respirar autonomamente, estas conexões cardiovasculares extras se fecham (6). O fluxo sanguíneo para os pulmões aumenta já que o neonato necessita respirar para poder levar o oxigênio para os pulmões (5).
Marcos do primeiro ano de vida
O desenvolvimento segue em ritmo intenso no primeiro ano de vida. Neonatos têm reflexos apurados que contribuem para sua habilidade em encontrar os mamilos, em mamar e engolir e, assim, sobreviver (5). Nos primeiros dois meses de vida, bebês começam a sorrir, a balbuciar e a murmurar; eles começam a virar-se para fontes de som e ruídos, a prestar atenção a rostos e a manter a cabeça erguida quando deitarem de bruços (6). E ao fim do primeiro ano, um bebê pode já distinguir coisas e pessoas favoritas, pode dar um livro para você, dizer algumas palavras e dar os primeiros passos (7).
A linguagem que usamos é importante
Ao descrever uma gravidez e o desenvolvimento de embriões e fetos, a linguagem que usamos é importante. Infelizmente, a linguagem é parte do campo de batalha para a garantia do acesso humano ao aborto legal e seguro. Veículos de imprensa geralmente estabelecem normas sobre como jornalistas devem abordar temas como o aborto. Deste modo, as palavras ao reportarem o tema podem ser manipuladas por questões políticas, deixando de lado a exatidão médica (11, 12).
E ao expormo-nos a certas palavras e linguagem, isso pode impactar nossa atitude referente ao aborto. Em um estudo, estudantes universitários da Polônia participaram de uma pesquisa sobre desenvolvimento fetal. Metade do grupo entrevistado recebeu perguntas que usavam o termo "feto" e a outra metade responderam questões com o termo "criança". Ao fim do estudo, o grupo exposto a questões com a palavra "criança" para descrever um feto foi menos propenso a apoiar o aborto (10).
Diversas propostas de lei sobre "batimento cardíaco fetal" foram introduzidas estadualmente nos EUA a partir de 2019 (13). Esse novo tipo de legislação busca banir o aborto uma vez que a atividade cardíaca embrionária possa ser detectada (algo que pode ser encontrado em ultrassons por volta da sexta semana de gestação) (2). Muitas pessoas podem ainda nem saber ainda que estão grávidas tão cedo nesse período, e esta nova legislação pode limitar suas decisões reprodutivas.
Algumas pessoas acreditam que o termo "batimento cardíaco fetal" é usado por legisladores não apenas para provocar uma reação de impacto mas também como tentativa de redefinir a viabilidade, ao sugerir que a atividade cardíaca embrionária é um sinal de viabilidade (15). Na verdade, a verdadeira definição de viabilidade significa que um feto é capaz de sobreviver fora do útero, o que só é possível cerca de 18 semanas após a detecção de atividade cardíaca embrionária (ao redor das 24 semanas da gestação) (2) — mas isso éw algo que só aconteceria sob intenso cuidado neonatal.
O modo Gravidez do Clue utiliza terminologia médica apropriada ao referir-se a embriões, fetos e neonatos. De todo modo, é você que escolhe a linguagem que prefere ao falar de sua gravidez. Algumas pessoas podem preferir chamar seu embrião ou feto de "bebê" porque isso pode ajudar a intensificar os laços, ao mesmo tempo que outras pessoas preferem os termos científicos. Sinta-se à vontade para fazer as pessoas saberem qual os seus termos preferidos quando se trata de sua gravidez.
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Se você está considerando ou tem dúvidas sobre a interrupção de uma gestação, leia nossa artigo sobre o que acontece antes, durante e depois de um aborto.