A história meio sem graça de quando coloquei um DIU
Quando tudo funciona bem a gente nem liga.
*Tradução: Mariana Rezende
Quando comecei a cogitar a hipótese de usar um DIU (dispositivo intra-uterino) nos idos dos meus 20 anos, me aprofundei no universo dos fóruns online. Reddit, Livejournal (!), Tumblr, todos eles. Lá eu encontrei muitas experiências extremamente diferentes com o DIU, desde "sussa na buça" até "pior do que dar à luz". Os relatos mais horrendos e assustadores tendem a ficar no topo e eu acho que esse é um dos aspectos infelizes da internet.
Mas depois de considerar todos os potenciais benefícios, aos 26 anos e numa relação longa, finalmente decidi avançar com o processo. Optei pelo Kyleena, que dura cinco anos. Ele tinha uma dose ligeiramente menor que a marca mais comum de DIU hormonal, o Mirena, além de ser menor. Na época, tinha a sorte de ter plano de saúde pelo meu emprego e morar em Nova York, onde tinha acesso relativamente fácil a cuidados de saúde.
Queria compartilhar minha experiência porque contraceptivos, sobretudo os DIUs, não funcionam da mesma forma para todo mundo. Mesmo na nossa equipe no Clue temos uma vasta gama de experiências com métodos contraceptivos. Quanto mais histórias pudermos compartilhar, mesmo as mais tranquilas, mais informações podemos ter sobre nossas opções.
Tentativa e erro com anticoncepcionais e, de quebra, uma vaginose bacteriana.
Durante anos usei camisinhas (com outras pessoas) e o método do coito interrompido (em relações longas). Eu sabia dos riscos. Só que umas duas vezes por ano eu passava por um turbilhão de estresse e ansiedade por causa de possibilidade de estar grávida, embora minhas menstruações atrasassem justamente por causa do estresse.
Perguntei para dois ginecologistas sobre o DIU. O primeiro disse que eu deveria tentar a pílula primeiro. Ignorei. Estava preocupada sobre como a pílula poderia afetar meu humor e minha saúde mental, uma vez que eu tomo antidepressivos.
A segunda ginecologista me disse que, se fosse ela, não usaria o DIU antes de ter engravidado. Ela me assustou com a possibilidade de perfuração. Desde então aprendi que esse não é o conselho padrão e que a maioria dos(as) ginecologistas recomendam o DIU como método contraceptivo reversível de longa duração.
Da terceira é que vai! Quando contei para a ginecologista da vez sobre minha intenção de colocar um DIU, ela confiou que eu tinha feito minha pesquisa. Ela disse que precisava garantir que eu não tinha infecções com um exame pélvico e um papanicolau, e me indicaria para uma outra médica fazer a inserção.
Durante o exame pélvico, ela disse que eu tinha um "pouco de VB". O que é "VB"? Nem fazia ideia.
Ela me explicou que a vaginose bacteriana é super comum e fácil de tratar. Então ela me receitou um antibiótico vaginal em gel, Metrogel, que eu usei pelos próximos cinco dias.
A preparação para a inserção
Na manhã da inserção, segui todas as instruções da médica. Tomei um bom café-da-manhã, um ibuprofeno uma hora antes da consulta e um remédio (com receita!) para a ansiedade com 30 minutos de antecedência para acalmar os meus nervos.
No consultório, uma enfermeira muito experiente e afetuosa me fez algumas perguntas. Embora eu tivesse usado o Clue para agendar a consulta calculando o primeiro dia da minha menstruação – uma recomendação da médica, porque nesse dia o colo do útero está mais aberto – eu ainda não tinha ficado menstruada.
Cerca de duas semanas antes, tinha tomado Plan B (uma pílula do dia seguinte) e ela tende a alterar meus ciclos. Nem fazia ideia de qual altura do ciclo eu estava e fiquei bem aliviada quando me deram um teste de gravidez e ele deu negativo. Daí me disseram para fazer outro teste em duas semanas, só para garantir que não tinha nenhuma gravidez em desenvolvimento.
Eles ofereceram um anestético local para o colo do útero e eu aceitei bem animada.
O procedimento
Durante o procedimento, a enfermeira fez a maior parte do trabalho sob supervisão da médica. O processo todo durou no máximo uns 10 minutos. Ela me explicou tudo que estava acontecendo. No fim, acho que a médica fez a inserção em si e o ultrassom para confirmar que o DIU tinha ficado bem posicionado. Senti um pouco de desconforto durante o procedimento, mas eu o compararia ao desconforto do papanicolau, com uma picada um pouco mais longa. Fiz um pouco de respiração profunda durante o tempo todo em que estive com os pés para cima nos estribos. Odeio os estribos.
Depois da inserção
Meu parceiro da época me acompanhou até o consultório. Depois que saímos de lá comemos sanduíches de frango empanado e fui para casa me deitar.
Não tive cólica no começo, mas as dores vieram mais para o fim do dia. Depois de 36 horas do procedimento, tive umas cólicas bem dolorosas, comparáveis com as que tenho nos dias mais intensos da menstruação. Acho que como eu já tenho uma menstruação intensa com muitas cólicas quase a vida inteira, estava bem preparada. Se não tive acostumada com cólicas tão fortes, eu teria ficado chocada com a intensidade.
Quase dois anos depois da inserção...
Meu segundo aniversário com o DIU está chegando. No geral, acho que fiz uma boa escolha.
Meu fluxo menstrual diminuiu consideravelmente. Vem uma borra de sangue e eu nem preciso usar absorvente interno. Não tenho mais cólicas debilitantes e isso fez minha qualidade de vida aumentar muito.
Gosto de ainda estar ovulando e ter uma menstruação real com o DIU, ao contrário da pílula, que causa um sangramento de retirada e interrompe os ciclos mensais. É bom ter uma confirmação mensal de que não estou grávida.
Depois de seis meses, notei que tinha mais pelos faciais grossos no meu queixo e que minha acne pré-menstrual tinha piorado um pouco. Nada além disso tinha mudado na minha vida, então minha ginecologista na Alemanha especulou que pudesse ser por causa do DIU. Mas ela não tinha como confirmar. Ela também viu um cisto no meu ovário e eu aprendi que isso é bastante comum. Ele sumiu depois de alguns meses.
Decidi que esses potenciais efeitos colaterais não são superados pela paz de espírito que eu tenho agora com o fluxo menstrual mais leve. Nota dez para o DIU (até agora!).
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