Vaginose bacteriana: razão comum de corrimento vaginal anormal
*Tradução: Juliana Secchi
Coisas importantes a saber:
O equilíbrio de bactérias na vagina é importante para manter você e seu trato reprodutivo saudáveis
A vaginose bacteriana é a causa mais comum em pessoas que procuram atendimento para tratar corrimento e odor vaginais fora do normal
Limite fatores de risco: use preservativos, não faça ducha íntima e mantenha todos os tipos de sabonete longe da vulva e da vagina
O tratamento da vaginose bacteriana pode variar de antibióticos e antissépticos até medicamentos para restaurar a acidez e também probióticos
A composição do seu ecossistema vaginal está em constante fluxo. Ele muda com as fases da sua vida reprodutiva (puberdade, menarca, gravidez, menopausa), bem como com o seu ciclo hormonal (1, 2). Mas sua flora vaginal trabalha continuamente para manter um nível de homeostase, protegendo e facilitando a fertilidade antes e durante a idade reprodutiva e ajudando a manter seu corpo saudável por toda a vida.
O tipo predominante de bactéria que habita a vagina saudável normal é o Lactobacillus, constituindo cerca de 70% de todas as bactérias vaginais (3, 4). Na idade reprodutiva, pode haver até 10 milhões dessas bactérias em cada grama de corrimento vaginal em determinados momentos do ciclo menstrual (2). Os lactobacilos estão presentes em muitas espécies e também são encontrados no seu sistema digestivo e urinário (assim como no iogurte, e é por isso que você talvez reconheça a palavra). Essas (e outras) bactérias produzem peróxido de hidrogênio e ácido lático como produtos de sua digestão, que ajudam a manter o pH baixo de uma vagina saudável (ou seja, um ambiente levemente ácido) e impede que populações de outros micróbios cresçam ou que cresçam demais (uma minoria de vaginas possui uma variedade de outras bactérias dominantes produtoras de ácido lático) (5).
O equilíbrio de bactérias em sua vagina é importante para manter você e seu trato reprodutivo saudáveis.
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O que é a vaginose bacteriana?
É comum não ter ouvido falar sobre vaginose bacteriana até você notar um problema com seu próprio corrimento e começar a pesquisar no Google. A vaginose acontece quando o equilíbrio normal das bactérias vaginais é substituído por um grande número de bactérias anaeróbias (bactérias que não precisam de oxigênio para crescer). O tipo mais comum de bactéria causadora é chamada Gardnerella (não confunda com a IST gonorreia, se você ver isso no seu relatório clínico). Os processos de digestão da nova comunidade bacteriana criam diferentes subprodutos e mudanças no ambiente, que podem levar a sintomas que vão desde um odor desagradável ou que lembra peixe a coceira, desconforto e inflamação (6). Uma resposta imune também é desencadeada na vagina e pode degradar o muco natural que a protege. Isso pode tornar o trato reprodutivo mais propenso a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV e clamídia (7).
A vaginose bacteriana é a causa mais comum em pessoas que procuram atendimento para tratar corrimento e odor vaginais fora do normal.
Em muitos casos, os impactos mais significativos da vaginose sintomática são emocionais e sociais. Isto é especialmente verdade para pessoas que a apresenta de forma recorrente (tendo várias vezes apesar de realizar tratamento). Um estudo constatou que, dependendo da gravidade e frequência dos sintomas, a vaginose pode levar as pessoas a se sentirem "constrangidas, envergonhadas, 'sujas' e muito preocupadas que outros possam notar seu mau odor e corrimento anormal" (8). Isso pode afetar a auto-estima e a vida sexual dessas pessoas, que podem passar a evitar completamente a atividade sexual (especialmente receber sexo oral). Sintomas recorrentes, sem entender o motivo, podem ser frustrantes e fazer com que se sinta estar fora de controle.
Embora ela geralmente não levar a complicações de saúde, às vezes a vaginose não tratada pode acarretar doenças inflamatórias pélvicas, infecção após cirurgia ginecológica e complicações na gravidez, incluindo aborto espontâneo e parto prematuro (7, 9, 10).
A vaginose bacteriana acontece quando o equilíbrio normal de bactérias é substituído por um grande número de bactérias anaeróbicas.
Quão comum é a vaginose bacteriana?
Nos EUA, vaginose bacteriana é a causa mais comum em pessoas que procuram atendimento para tratar corrimento e odor vaginais fora do normal. Uma pesquisa descobriu que cerca de 3 em 10 pessoas nos EUA a terão em algum momento (cerca de 2 em 5 pessoas brancas, cerca de 3 em 10 de origem mexicana, cerca de 5 em 10 afro-americanxs), embora muitos desses casos fossem assintomáticos (por volta de 84% não apresentava sintomas vaginais) (9). A prevalência varia bastante entre os dados demográficos e está ligada a características socio demográficas, incluindo raça, etnia, educação e renda (9, 11).
Quais são as causas da vaginose bacteriana?
As causas exatas ainda não são conhecidas. A homeostase vaginal pode ser desequilibrada tanto por fatores internos (ex. antibióticos, dieta) quanto fatores externos (ex. sabonete, sêmen), mas não se entende completamente por que uma pessoa tem vaginose recorrente em uma situação específica, enquanto outra não.
Alguns fatores demonstraram aumentar o risco; por exemplo, pessoas que fizeram ducha íntima nos últimos seis meses têm uma probabilidade significativamente maior de tê-la (9). Sangramento uterino prolongado ou irregular também pode contribuir. Isso pode acontecer porque o sangue uterino altera o pH da vagina para um pouco menos ácido (há menos lactobacilos por volta da menstruação) e/ou porque os glóbulos vermelhos aumentam as chances dessas bactérias serem carregados para fora da vagina (2, 11). Quem tem sangramento prolongado como efeito colateral de um novo DIU, por exemplo, pode ter maior probabilidade de ter vaginose, mas são necessárias mais pesquisas para determinar isso (11). A vaginose recorrente pode surgir ao redor da menstruação pelo mesmo motivo (11). O uso de contraceptivos hormonais em geral, incluindo “a pílula”, demonstrou ter um efeito protetor contra vaginose bacteriana (9, 11, 12).
Práticas sexuais também estão associadas a um maior risco de. Nos EUA, cerca de 85% das pessoas que sofrem de vaginose bacteriana são sexualmente ativas (9). Fatores de risco específicos podem incluir parceiros(as) sexuais novos ou múltiplos, falta de uso de preservativo, relação sexual vaginal e praticar sexo anal antes da relação vaginal sem utilizar uma nova barreira protetora (13–15).
Os episódios recorrentes de vaginose podem ter uma tendência a aparecer por volta da menstruação.
Prevenção e tratamento da vaginose bacteriana
Às vezes as bactérias vaginais podem ficar desequilibradas e depois melhorar por conta própria. Para prevenir VB, comece por limitar seus fatores de risco. Use preservativos, não faça ducha íntima e mantenha todos os sabonetes longe da vulva e da vagina (alguns especialistas dizem que o sabonete sem espuma e sem cheiro não faz mal à vulva, já outros dizem para lavar só com água). Não use produtos com aromas ou perfumes nessa área e limite seus banhos de banheira.
Muitas vezes, porém, os sintomas persistem ou se repetem e precisam ser tratados. Encontrar a origem do problema seria muito útil, mas isso geralmente é difícil quando pouco se sabe sobre as causas.
O tratamento pode variar de antibióticos e anti-sépticos a medicamentos para restaurar a acidez e também probióticos (siga aqui, em inglês, uma discussão aprofundada sobre os tratamentos atuais). Alguns tratamentos estão disponíveis sem receita, mas outros precisarão de indicação médica. O monitoramento dos seus sintomas no Clue, especialmente quando eles começam, pode ajudar você e médicos(as) a identificar gatilhos (em Corrimento, selecione "atípico" ou crie uma etiqueta específica).
Infelizmente, é comum a vaginose bacteriana retornar após o tratamento. A falta de entendimento do que a causa significa que os tratamentos ainda têm um longo caminho a percorrer antes de oferecer eficácia a longo prazo. A agência regulatória norte-americana FDA estima que a “taxa de cura” pós-tratamento seja inferior a 4 em 10, com entre 3 e 8 pessoas tendo recorrência dentro de vários meses (16–18). A limitação dos fatores de risco após o tratamento pode ajudar—converse com seu(ua) médico(a) sobre opções.
Por fim, se você quiser, converse sobre vaginose com seus parceiros e amigos. A falta de consciência em torno do tema é estarrecedora, considerando o quão comum é. Trazer conhecimento e conscientização às pessoas ajuda a evitar o estresse que pode advir desse problema.