Foto: Marta Pucci

Tempo de leitura: 6 min

"Sangramento livre", a polêmica da vez. E por que isso importa?

by Jen Bell, e Silvia Maggi Revisado clinicamente por Maegan Boutot
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*Tradução: Sarah Luisa Santos

O "free bleeding" (do inglês "sangramento livre") é a prática ou hábito de, durante o ciclo menstrual, não bloquear ou coletar o sangue. Embora as pessoas tenham feito isso por séculos, recentemente esse tópico voltou a ser motivo de debate público.

Por que as pessoas ainda se chocam com manchas de sangue nas roupas? Nós que menstruamos temos que viver em desconforto por causa dos outros? A gente realmente tem que se desculpar por causa das funções corporais?

Algumas pessoas simplesmente se sentem mais confortáveis deixando o sangue correr livre em suas roupas em vez de usar um absorvente, tampão ou copo menstrual. Já outras pessoas não têm acesso aos produtos ou não podem comprá-los. Algumas pessoas não sangram livremente o tempo todo, mas adotaram uma atitude mais relaxada quando têm sua menstruação, ao escolherem evitar usar produtos menstruais à noite ou no banho. E isso não é novidade.

Existe muita especulação sobre o que as pessoas usavam como tampões ou absorventes na antiguidade, mas sem evidências confiáveis. A Dra. Helen King é uma historiadora que achou evidência de mulheres usando panos menstruais na Grécia Antiga. Outra historiadora, Sara L. Read, descobriu que as mulheres ricas da Inglaterra do século 17 usavam panos cortados para absorver a sua menstruação, enquanto a maioria das mulheres provavelmente não usava nada (1).

“Eu tenho milhares de calcinhas com manchas de sangue nelas. Às vezes eu esqueço de colocar um tampão novo depois de tirar o usado. Uma vez eu deixei uma marca de sangue em um sofá branco de um barco bem chique na Bienal de Veneza. Às vezes eu uso calça jeans com marcas de sangue no lado de dentro, se elas ainda estiverem boas por fora. Não é que eu tenha um fetiche por manchas de sangue em tudo que me cerca, tem mais a ver com o fato de que eu não quero fazer um dramalhão sobre a minha menstruação. Eu simplesmente me sinto confortável com isso. Eu tenho menstruado por mais de 20 anos, e devo admitir que sou bem punk, muito feminista e geralmente namoro pessoas que também menstruam, o que faz com que tudo fique menos esquisito.” – Silvia

Quando você ouvir sobre free bleeding/sangramento livre, você pode pensar “Mas e como lavar essa roupa?”. Mas, e se não tivéssemos tanta obsessão em tirar essas manchas? Manchas e vazamentos não são um sinal de fracasso. Mais do que uma prática, o sangramento livre é um movimento focado no direito das pessoas menstruarem de forma aberta e sem vergonha.

A primeira discussão on-line sobre o sangramento livre parece ter acontecido em um post de Sara no All About My Vagina, onde a autora discute sua epifania sobre manchas de sangue e como ela decidiu de vez em quando não usar produtos para sua menstruação:

“Eu não me importo de lavar minhas calcinhas na pia ou ter sangue nos lençóis de vez em quando. Eu gosto de não sentir como se eu tivesse falhado de alguma forma quando um produto vaza... Basicamente é sobre ficar confortável com a menstruação. Eu não sou preguiçosa! Eu não sou irresponsável! Eu apenas acho que é de boa deixar rolar de vez em quando!” - Sarah

Em 2012, a VICE publicou uma série de fotos de Emma Arvida Bystrom chamada “There Will Be Blood” (em tradução livre “Vai ter sangue”) que mostravam retratos de pessoas com manchas de menstruação em suas roupas. Não tinha nenhum texto acompanhando as imagens, mas elas iniciaram um grande debate, incluindo um post em 2012 sobre sangramento livre em uma comunidade feminista (em inglês).

Em 2014, uma pegadinha anti-feminista chamada Operação Sangramento Livre foi lançada no site 4chan. A ação misógina foi logo desbancada como uma farsa, mas ironicamente ela introduziu a ideia de sangramento livre para uma comunidade maior. Depois, a autora Kayla Goggin escreveu sobre sua experiência com o sangramento livre:

“Senti que foi ótimo não ter um objeto estranho dentro do meu corpo para estancar o sangramento, além disso minhas cólicas foram muito mais leves.” – Kayla Goggin

Então em 2015, a baterista Kiran Gandhi, decidiu correr a maratona de Londres sem um tampão ou absorvente. As fotos das manchas de sangue em suas leggings viralizaram, e sua corrida foi noticiada em publicações de imprensa como o The New York Times.

“Teria sido muito desconfortável ter de me preocupar com um tampão por 26,2 milhas... Eu corri com sangue pingando nas minhas pernas pelas irmãs que não têm acesso aos tampões e manas que, apesar de dores e cólicas, escondem mesmo assim e fingem que isso não existe. Eu corri para dizer, isso existe sim, e nós vamos superar um dia.”-Kiran Gandhi

Mulheres só nos EUA jogam foram cerca de 3 quilos em produtos de higiene feminina todo ano, e Gandhi usou sua fama para chamar a atenção para este tipo de problema ambiental. Ela também foi rápida em apontar que uma das razões que não temos produtos mais sustentáveis disponíveis é por causa de falta de liberdade em falar abertamente e livremente sobre nossas experiências menstruais.

Em muitos países, produtos menstruais são taxados como itens de luxo, e pessoas com baixa renda sofrem para poder comprá-los. Produtos de higiene feminina são inacessíveis para quem está em situação de encarceramento, e são um dos itens mais requisitados em abrigos para sem-teto, de acordo com um relatório recente do Los Angeles Times. E, muitas garotas ao redor do mundo faltam na escola por não terem recursos para lidar com sua menstruação.

Em 2015, depois que o governo britânico se recusou a anular o imposto de itens de saúde menstrual, duas ativistas feministas responderam com sangue. Charlie Edge organizou um protesto do lado de fora do Parlamento, escrevendo no Facebook: “Hoje, eu vou expor tampões e absorventes fora das casas do parlamento para mostrar o quão 'luxuosos' eles são.” Ela e sua companheira de protesto Ruth Howarth sangraram publicamente através de suas calças brancas para mostrar como que ficam quando tampões e absorventes são inacessíveis.

No mesmo ano, a artista e poeta Rupi Kaur inadvertidamente lançou uma reposta contra o Instagram quando eles “acidentalmente” removeram uma foto sobre menstruação, duas vezes.

Então em 2017, o ativista transgênero Cass Clemmer postou uma foto mostrando uma mancha de menstruação em sua calça para ressaltar que menstruação não acontece apenas com mulheres. Cass também criou um livro de colorir para ilustrar que pessoas de todos os gêneros podem menstruar.

[Leia agora: Como a menstruação virou tabu?]

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