Por que pessoas lésbicas usam anticoncepcionais?
*Tradução: Mariana Rezende
Os anticoncepcionais geralmente são desenvolvidos e comercializados para heterossexuais que, no entanto, não são as únicas pessoas a usá-los. Conversamos com pessoas lésbicas sobre suas experiências e conselhos para o uso de anticoncepcionais.
"Não é por causa da minha menstruação que a minha educação deveria ficar prejudicada"
Estou tomando a pílula há anos. Minhas cólicas menstruais eram insuportavelmente doloridas. Já tive que deixar de ir à escola ou até sair no meio de uma aula, porque não conseguia me concentrar em nada de tanta dor que eu sentia. Não é por causa da minha menstruação que a minha educação deveria ficar prejudicada, então comecei a usar anticoncepcionais hormonais para regular e lidar com minha menstruação. Ainda tenho cólicas, mas não é nada comparado ao que eu tinha antes. Usar a pílula não tem nada a ver com a minha identidade lésbica. É uma decisão médica que tomei para facilitar minha vida.
No geral, minha experiência tem sido super positiva. Antes, minhas cólicas me acordavam de madrugada, mas agora consigo dormir tranquilamente e não perco mais aulas por causa delas. Se não tivesse começado a usar anticoncepcionais, teria sido muito mais difícil passar pela experiência da escola e da faculdade. Agora estou na faculdade e me sinto muito grata por poder viver meu cotidiano sem as cólicas dificultando tudo.
Se você está pensando em usar anticoncepcionais para administrar a menstruação, mas não se sente confortável por causa do estigma, eu gostaria de dizer que é perfeitamente normal querer controlar melhor sua menstruação. Você não está fazendo nada de errado e eu desejo a você tudo de bom. Espero que seja tão eficaz para você quanto foi para mim. —Anônima, lésbica, mulher cisgênero, 19 anos, Reino Unido
"Meu problema com a acne melhorou consideravelmente"
Estou tomando anticoncepcionais combinados há quatro meses para controlar o desequilíbrio hormonal que causa acne cística grave. Tem sido uma experiência incrível. Tive algumas cólicas durante o processo de ajuste do meu corpo, mas fora isso, tem sido ótimo. A acne melhorou consideravelmente e tenho menos crises. Para outras lésbicas que pensam em tomar anticoncepcionais: certifique-se de que seja receitado por profissionais e não tenha medo de usá-lo para outros fins, mesmo que você não esteja fazendo sexo com homens. —Anônima, lésbica, mulher cisgênero, 22 anos, Acra, Gana
"Tive que trocar de marcas, porque nem todos anticoncepcionais funcionaram para mim"
Tomo a pílula para o equilíbrio hormonal e a regulação da menstruação. Minha experiência tem sido razoável, tive que trocar de marcas, porque nem todos anticoncepcionais funcionaram para mim. Meu conselho para outras pessoas? Tenha em mente que às vezes os efeitos colaterais fazem o uso da pílula não compensar, então não tenha medo de trocar de tipos de anticoncepcionais. —Anônimx, lésbicx, não-binarie, 19 anos, Malta
"Os anticoncepcionais me ajudaram com a minha disforia de gênero"
O anticoncepcional que escolhi tem uma ligação com minha sexualidade e meu gênero. Eu me identificava como bissexual e comecei a usar anticoncepcionais quando namorava um homem cisgênero. Desde que terminei com ele (há dois, três anos) e, mais recentemente (nos últimos meses), cheguei à conclusão de que sou lésbica, mas ainda uso anticoncepcionais. Também me identifico como não-binarie e conheço muitas pessoas que odeiam menstruar, mas acho que, como os anticoncepcionais ajudaram a interromper e atenuar minhas menstruações, eles ajudaram um pouco a lidar com minha disforia de gênero, embora eu tenha outras fontes de disforias em que o anticoncepcional não ajudou.
Já usei o implante (Implanon), mas ele interagiu com meu estabilizador de humor e me fez menstruar sem parar por cerca de dois meses. Fui ao médico e descobri que a interação medicamentosa era o problema, então tirei o implante. Comecei a usar o DIU Mirena cerca de um ano e meio depois, sem interferências com o estabilizador de humor. No geral, tem sido uma experiência razoável. Os anticoncepcionais preveniram a gravidez e parece ajudarem um pouco com a estabilidade do humor, além de ajudarem muito a lidar com a síndrome do intestino irritável por algum motivo. Também gosto de ter uma menstruação bem mais leve. O único lado negativo é ter um pouco de acne e sangramento de escape. —Anônimx, lésbicx, não-binárie, 25 anos, Wisconsin, EUA
"Minhas menstruações acalmaram muito"
Eu tomo a pílula anticoncepcional, não só para prevenir a gravidez, mas também para reduzir a intensidade da minha menstruação. Sou não-binárie e minha menstruação às vezes me causa disforia. Minha experiência com anticoncepcionais tem sido tranquila e minhas menstruações abrandaram em termos de intensidade do fluxo. —Anônimx, lésbicx, mulher não-binárie, 21 anos, Flórida, EUA
"Antes de começar a tomar a pílula, eu chegava a ficar até seis meses sem menstruar"
Estou tomando a pílula há quatro anos para corrigir desequilíbrios hormonais. Antes de começar a tomar a pílula, eu chegava a ficar até seis meses sem menstruar. Eu tinha a testosterona mais alta e minha voz mudou bastante depois que comecei a tomar a pílula. Eu me identifico como mulher e era AFAB (gênero feminino atribuído no nascimento), mas a minha voz é grave e não me ajuda muito e me sentir como mulher. Ter uma voz mais feminina faz com que eu me sinta melhor.
Já passei meses sem poder tomar anticoncepcionais, porque não consegui encontrar um médico para me receitá-los. Além disso, já me mudei de estado três vezes desde que comecei a usá-los. Em dois dos estados, a receita saía por volta de 10 a 20 dólares. Em Nova York, consigo de graça. Não troquei ainda, mas estou considerando o DIU hormonal. —Anônima, lésbica, mulher, 21 anos, Nova York, EUA
"Minha experiência com anticoncepcionais tem sido complicada"
Estou tomando a pílula desde antes de me descobrir lésbica. Não uso anticoncepcionais para evitar uma gravidez, mas para evitar ficar menstruada e para ajudar com a minha pele. Minha experiência com anticoncepcionais tem sido complicada. Foram várias tentativas e erros, o que não é propriamente divertido. Troquei de anticoncepcionais cerca de seis, sete vezes em cinco anos. É pesado para o corpo. Se você está pensando em usar anticoncepcionais: tente se você acha que é a coisa certa, mas se prepare para o processo. Descubra o que funciona para você e não se contente com nada menos que isso. É seu corpo, cuide bem dele! —Anônima, lésbica, mulher, 20 anos, Wisconsin, EUA
"Encontre um bom médico. Isso faz muita diferença!"
Estou tomando o Levlen (anticoncepcional oral combinado) há cerca de quatro meses. Minha menstruação tem sido estressante e estou torcendo para que ela pare de vir completamente (com a aprovação do meu médico). Apesar de uma gravidez não ser possível na minha relação, gosto da segurança de saber que nada que não esteja previsto possa acontecer. Não tenho certeza se existe uma ligação entre meu gênero e a escolha do anticoncepcional. Eu me considero não-binarie, mas não sei se minha aversão à menstruação tem alguma coisa a ver com isso.
Eu costumava tomar a injeção Depo-Provera. Eu precisava contar com o Planned Parenthood (N.T.: organização sem fins lucrativos que fornece contraceptivos e cuidados de saúde reprodutiva nos EUA e ao redor do mundo) era desconfortável. E eu engordei muito. Ainda estou vendo até onde vai o Levlen, mas estou otimista. Encontre um bom médico. Fará toda a diferença! Para cada médico péssimo que você encontra por aí, existe um excelente e apoiador esperando por você. —Anônimx, lésbicx, agênero, 25 anos, Nova Zelândia
"Os anticoncepcionais não precisam estar relacionados à sua sexualidade"
Tomo a pílula combinada para tratar a acne. Minha experiência tem sido boa, no geral. Tive dores de cabeça por um tempo, mas elas pararam e a pílula ajudou muito com a acne. Meu conselho? Se você acha que anticoncepcional é o caminho certo para você, vai fundo! Não precisa estar relacionado à sua sexualidade. —Katie, lésbica, mulher, 16 anos, Yorkshire, Reino Unido
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