Eu quero ter um bebê, mas meu parceiro não
Nós não terminamos, porém. Aqui segue o porquê.
**Os nomes foram alterados**
“Posso me ver tendo filhos com você, e essa não é uma sensação que tive antes”, meu namorado Adam me disse uma noite, depois que eu trouxe à tona a conversa sobre ter um bebê. Soou como música para meus ouvidos. Este foi o meu relacionamento mais longo e saudável até o momento. Eu estava loucamente apaixonada e sabia que Adam seria um excelente pai.
Era uma fantasia com raízes profundas: eu cresci em um mundo bem costurado por filmes da Disney, revistas para adolescentes e pais casados. Eu sempre assumi que um dia eu teria meus próprios filhos.
Isso não quer dizer que eu não tenha pensado sobre a parentalidade de forma crítica. Durante anos eu questionei esse desejo de ser mãe, especialmente devido à falta de tempo que passei com crianças. Eu me perguntava, como eu poderia ter certeza de que esse desejo era algo mais do que o que os outros esperavam de mim? Eu questionei a suposição de que toda mulher quer ser mãe e que existe uma forma específica de “ser mãe”. Essa ideia tradicional de maternidade simplesmente não se encaixava na minha visão de mundo: a ideia que eu tinha quando adolescente de que estaria casada aos 25 anos e teria filhos aos 30 parecia uma linha do tempo para se dar risada. Estou completando 30 anos este ano e não me sinto preparada do ponto de vista prático e nem emocionalmente pronta para a maternidade em um futuro próximo. E isso está mais do que ok! Ao invés de "me assentar", tenho explorado o mundo, descobrindo e perseguindo o que quero e tentando descobrir que tipo de pessoa quero ser (a propósito, tudo isso são projetos em andamento). Eu não estou sozinha nesse aspecto; já está bem documentado que as mulheres que têm filhos na Europa e na América do Norte o fazem cada vez mais tarde (1, 2).
Em busca de algumas respostas, li livros e ensaios sobre maternidade, assisti filmes e séries sobre o assunto e devorei todos os podcasts que encontrei relacionados ao tema. Sempre que tive oportunidades, perguntei às mães presentes em minha vida como elas equilibravam seu trabalho e responsabilidades de cuidado em casa com suas próprias necessidades e senso de identidade. Depois de toda essa pesquisa e autorreflexão, o desejo que eu tinha desde a infância de ser mãe ainda estava lá. Só que agora parecia algo que eu poderia reivindicar, e não apenas algo que me ensinaram a querer. Apesar de todos os compromissos pessoais e riscos existenciais, apesar do fato de que eu nunca ter conseguido desembaraçar meu próprio desejo “autêntico” daquilo que me foi ensinado de forma explícita e implícita desde o nascimento–eu ainda queria ser mãe. A maternidade me parecia uma experiência profundamente única e interessante, uma nova maneira de me relacionar com o mundo e comigo mesma, e no final das contas eu estava tão curiosa sobre como seria testemunhar outro humano se tornar quem ele é, e conseguir apoiá-lo ao longo do caminho. Com a confissão de Adam, pela primeira vez senti que sabia exatamente o que queria.
Mas ele mudou de ideia.
Jamais esquecerei como foi sentar na frente dele na mesa da cozinha naquela tarde cinza de Janeiro, quando ele me disse que me amava e queria ficar comigo, mas que depois de algum tempo pensando nisso, ele não desejava realmente ser pai. Era aquilo o começo do fim? Eu sabia que queria ter filhos e que não queria fazer isso sozinha. Mas ao olhar para Adam, quem eu amava há três anos, não pude deixar de me questionar se esse desejo por filhos—forte, mas também um tanto abstrato—estava encaminhando o meu relacionamento para o fim.
Ele também sentiu isso. "Você vai me deixar agora?" ele perguntou, meio brincando e um pouco nervoso. Eu pude ser honesta, mas não definitiva. "Eu não quero te deixar", eu respondi.
Então ele me ofereceu uma solução que eu não havia considerado antes. Ele me perguntou se eu conseguia imaginar continuar nosso relacionamento, mas tendo e criando um filho com outra pessoa. Na época, eu não soube o que pensar. Até então, eu sempre tinha me imaginado em uma estrutura familiar bastante padrão com mãe, pai e filhos.
No dia seguinte, pensei um pouco mais sobre a ideia, por mais desconhecida e pouco convencional que parecesse. Uma pessoa que eu conhecia havia recentemente entrado em coparentalidade de forma platônica. Com 30 e poucos anos, solteira e pronta para se tornar mãe, ela foi a um evento para pessoas que queriam encontrar com quem pudessem coparentar. Ela conheceu um casal homossexual e eles se deram muito bem. Um ano e meio depois, ela deu à luz ao seu filho. Os benefícios dessa configuração é que ela pode compartilhar a responsabilidade da parentalidade com mais de uma pessoa (e não faz nada mal que eles sejam médicos!).
Comecei a me interessar mais sobre o assunto e mergulhei em pesquisa. Eu descobri que a coparentalidade platônica está em ascensão (3). Descobri que um casal de mulheres em Berlim havia criado um site para pessoas interessadas em coparentalidade se encontrarem. No Reddit, descobri que pais divorciados também podem oferecer alguns modelos de como cuidar de um bebê com alguém com quem não se vive.
Embora eu esteja tentada a terminar aqui com uma nota otimista, tudo isso ainda é um trabalho em andamento. Explorar o espaço da coparentalidade platônica tem sido emocionante, mas é claro que também é assustador e me leva a imaginar como será meu caminho para a maternidade. Sinto-me grata por ter um parceiro para quem meu desejo de ter filhos (e tê-los com outra pessoa) não é um problema, e por continuar explorando diferentes maneiras de me tornar e ser mãe. O que eu entendi através desse processo é que haverá incógnitas em qualquer forma que eu escolha para ser mãe. É tentador escolher um caminho que me permita acreditar que sei como as coisas vão acabar. Mas reconhecer que não sei, que nunca vou saber, pelo menos me ajuda a definir o que quero que aconteça—e então talvez, apenas talvez, eu consiga tornar esse desejo uma realidade.