Puberdade: veja dicas que podem te ajudar nesta bonita fase
Tudo estava tranquilo, até que os peitos cresceram, os pelos apareceram e um dia, sem qualquer aviso prévio, a calcinha ficou suja de sangue. Bem-vinda! Você acaba de chegar à menacme, época da vida entre a primeira e a última menstruação (1). Durante esse percurso, você será brindada com o ciclo menstrual, uma das maiores potências do corpo feminino.
Essa característica traz com ela uma coleção de comemorativos, dentre eles a vontade de que o corpo se encontre, se abrace, se enlace, se misture com o corpo do(a) outro(a).
Se você está considerando o sexo pela primeira vez, veja algumas dicas que podem te ajudar.
Conhecer seu corpo é importante. Se te interessa, a masturbação pode ajudar
Os meninos geralmente são estimulados a se masturbarem. Com as meninas é diferente, mas não deveria ser, afinal de contas as mudanças no corpo tão características da puberdade chegam para todo mundo, indiscriminadamente.
Se você tem interesse e curiosidade, explorar as possibilidades de prazer na hora do banho, antes de dormir, em um ambiente seguro e com privacidade podem ser um primeiro passo para o exercício saudável da sua sexualidade.
Há riscos que vêm com a prática sexual
Algumas questões se impõem com veemência durante o exercício da vida sexual na adolescência: exposição a situações de violência, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.
Equacionar essas respostas é um dos desafios do projeto “Sonho de Menina, Força de Mulher” que leva informação sobre saúde sexual e acesso a métodos contraceptivos a estudantes do ensino médio em São João de Meriti. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, São João de Meriti é um dos municípios mais populosos da América Latina (mais de 13.000 hab/km2) (2), com altas taxas de natalidade e de gestação na adolescência (3). Uma grande roda de conversa é conduzida por mim como ginecologista, onde temas como o corpo e fisiologia da sexualidade são abordados.
A importância do autoconhecimento no processo de construção da auto estima e da percepção das possibilidades do corpo como fonte de prazer determina o rumo da prosa. Em seguida, as adolescentes são convidadas a refletir sobre exposição a situações de violência e suas respectivas estratégias de enfrentamento. No fim das contas, cada uma tem uma história para contar a esse respeito. O projeto, durante o ano em que ocorreu em uma escola na Baixada Fluminense, reduziu de 37 para 5 o número de gestações indesejadas entre as alunas. As cinco meninas que engravidaram em nenhum momento participaram das ações promovidas (4).
A grande questão da sexualidade na adolescência: como se prevenir de constrangimentos ou de surpresas desagradáveis se você quiser participar do jogo sexual?
Todas concordam que as redes sociais, tanto reais como virtuais, são instrumentos poderosos nessa prevenção. Conhecer alguém novo requer cuidados. Amigas e amigos são aliados nessa empreitada. Importante que uma ou duas pessoas em tempo real saibam exatamente a localização de alguém durante um primeiro encontro. Emojis e códigos simples, previamente combinados, o localizador do celular ligado são exemplos de precauções que promovem segurança. Ideias variadas surgem e se transformam em verdadeiros serviços de atenção e alerta.
Falar de sexo é difícil, ainda mais na adolescência
No Brasil, o debate sobre sexualidade ocupa lugar confuso na família, na política e na sociedade—o papel de cada uma dessas esferas neste cuidado não é claro (5). Na África portuguesa, um estudo amplo feito em Moçambique ilustra como a falta de diálogo entre adolescentes e responsáveis, e a falta de espaço para tratar desse assunto nas escolas, sustentam barreiras de preconceito e desinformação: falar sobre sexualidade é tabu, há uma suposição equivocada de que falar a respeito incentivaria um início precoce da vida sexual ou expor àqueles que já tem relações sexuais, algo passível de marginalização em sociedades mais conservadoras (6). Uma boa rede de amigos, então, pode ser providencial para troca de informações, experiências, dúvidas e até mesmo de proteção nesta fase de tantas descobertas.
Para falar da prevenção de (DSTs) no projeto de São João de Meriti, no Rio, vibradores, objetos fálicos, preservativos masculinos e femininos são apresentados para que todas se apropriem da técnica de uso. E a ginecologista aqui manda a letra: “Espere o pênis ficar bem ereto, e mande ver! Essa é a hora de encapá-lo. Não esqueça de deixar um pequeno reservatório na ponta, é ali que o esperma vai se depositar. Segure a ponta com o polegar e o indicador em pinça, enquanto a outra mão desenrola a camisinha ao longo do pênis”. Caso o preservativo saia do lugar e se perca na vagina, não entre em pânico. A vagina pode até parecer, mas não é um buraco negro sem fundo. Relaxe e introduza seu dedo lubrificado (pode ser com a própria saliva se não houver lubrificante) e você será capaz de pescar o preservativo perdido.
No mundo, 16 milhões de jovens entre 15 e 19 anos e um milhão de meninas com menos de 15 anos se tornam mães a cada ano (8). No Brasil, a cada 100 partos, 18 são de mães-meninas (9).
Outra boa escolha na prevenção das DSTs é o preservativo feminino. A vantagem é que não é necessário aguardar a ereção. A camisinha feminina você introduz na vagina alguns minutos antes da penetração para que haja tempo suficiente para uma boa acomodação às paredes vaginais (7). Há uma variedade grande de marcas disponíveis: Della, L'amour, wo+man, Reality. No Brasil, o sistema único de saúde (SUS) também assegura a distribuição gratuita do preservativo feminino (ou deveria fazê-lo.
Métodos contraceptivos são fundamentais
Na adolescência a proteção deve ser dupla: contra DSTs e contra gravidez. A menina grávida geralmente abandona a escola, se capacita menos e se torna mais dependente de seu parceiro. Esse ciclo poderia ser interrompido com a promoção de acesso à informação e a métodos contraceptivos eficazes (10). Lembre que as pílulas, sejam combinadas ou de progesterona, são métodos excelentes, mas exigem uma disciplina rigorosa diária nem sempre adequada a rotina de jovens iniciando sua vida sexual (11).
Por isso outros métodos anticoncepcionais, principalmente os de longa ação podem ser considerados (11, 12). O dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, o sistema intrauterino Mirena® e o implante subdérmico Implanon NXT® podem ser utilizados na adolescência. A inserção é feita por profissional de saúde capacitado em consultório médico - consulte sempre seu ginecologista antes de optar pelo método. A inserção requer alguns cuidados, mas é simples e rápido. O DIU de Cobre é o único LARC disponível no SUS. A grande maioria dos planos de saúde privados cobrem os custos da inserção dos LARCs.
Rede de amigos criada, proteção contra gravidez instituída, preservativos na bolsa ou no bolso, meninas e mulheres, estudantes e/ou trabalhadoras apropriadas do seu corpo: tudo pronto para o exercício de uma sexualidade segura, responsável e prazerosa, uma das formas mais deliciosas de celebrar a vida.
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*O Clue preza pela neutralidade de gênero: falamos de menstruação a partir de um esforço inclusivo - leia e saiba mais.