Perimenopausa: meu processo de obsessão, luto e tesão
Uma história pessoal sobre a perimenopausa
*Tradução: Mariana Rezende
Dia desses eu estava conversando no chat com um novo amigo e potencial amante, um jovem cis que mora em outra cidade.
Eu: estou acostumada a ter mais libido quando estou ovulando, tem sido assim minha vida inteira. Mas agora que tenho 50 anos, a intensidade aumentou muito. Ninguém me contou sobre isso na aula de menopausa!
Ele: Nossa, existem aulas de menopausa? Todo dia é dia de aprender alguma coisa!
Eu: Claro que não, é uma piada... Quem me dera ter aulas! Essa é uma lacuna de informação enorme.
Ele: Passando por um centro comunitário… No quadro de avisos: HOJE – AULA DE MENOPAUSA. AMANHÃ – BINGO.
Muitas risadas cibernéticas se seguiram, mas o fato é que essa conversa me fez pensar.
A menopausa e o período que a antecede, conhecido como perimenopausa ou a transição para a menopausa, varia de pessoa para pessoa. Para algumas pessoas, esta fase é relativamente rápida e bastante definida, talvez dure apenas um ano, com um mínimo de incômodos. Mas para muitas pessoas, o período pode ser mais desafiador. Os ciclos menstruais se prolongam e podem se tornar irregulares e imprevisíveis. Uma amiga teve um sangramento muito intenso que durou semanas. Ondas de calor durante o dia e suores noturnos e outros distúrbios do sono podem se tornar companheiros frequentes.
Você às vezes pode sentir esses sintomas como um ataque violento. Eu certamente não estava preparada para as oscilações de humor e enxaquecas, e tem sido difícil separar o que pode estar relacionado à menopausa do que pode ser a minha ansiedade pré-existente, fibromialgia e depressão.
A única coisa que eu não encontrei em muitas fontes ou artigos é o tanque de guerra movido a energia nuclear que minha libido parece ter se transformado. A grande maioria das fontes online fornece conselhos para o exato oposto: perda de libido durante esta fase da vida. Alguns reconhecem que uma enorme ascensão no desejo pode acontecer. Um conselho comum sugere que isso pode acontecer por causa de uma queda no estrogênio, o que provoca um aumento nos níveis relativos de testosterona no sistema. Isso tudo é exacerbado no meu caso pelo fato de que não apenas meus ciclos são mais longos, mas eu me sinto muito mais excitada ao longo do ciclo do que antes.
Agora parece que estou encontrando meu caminho, muitos anos depois que essas mudanças começaram a acontecer. O aplicativo Clue me ajudou a esclarecer como, quando e por que esses sintomas físicos surgem. Mesmo quando os meus ciclos variam muito, os recursos do aplicativo podem me ajudar a prever quando vou ficar furiosa de novo ou quando posso esperar a minha habitual enxaqueca mensal.
Para mim, há também outro aspecto menos físico e mais emocional nessa jornada de perimenopausa. Por muitos anos no final dos meus 30 e início dos 40, tentei engravidar. Minha parceira de longa data, como eu, era uma mulher cis, e tivemos ajuda de vários doadores diferentes de espermatozoides. Eu engravidei apenas uma vez durante um período de cinco a seis anos e abortei logo depois.
Esses anos foram dos mais difíceis e tristes que já vivi. Todo mês, minha menstruação parecia a morte de alguém muito querido por mim, alguém que eu amava imensamente, inexplicavelmente, apesar de nunca tê-los encontrado no mundo físico. Como a menopausa, o aborto espontâneo é um aspecto da vida que ainda não é discutido ou compartilhado tanto quanto muitos outros.
Durante esse tempo de tentativa de conceber (Trying to Conceive ou TTC como dizem nos fóruns online) monitorei meu ciclo com precisão militar. Infelizmente, o Clue não estava disponível na época, mas usando mais métodos analógicos eu rastreei todos os possíveis sinais de fertilidade: meu fluido cervical, a posição e a textura do meu colo do útero, meus sonhos e estados de ânimo. Até usei um microscópio para observar e analisar a estrutura da minha saliva. Parecia às vezes uma espécie de loucura ou obsessão. O impulso de engravidar consumia tudo.
Ficou claro desde o início de nossas tentativas que eu estava tendo dificuldade em engravidar, e no final isso foi diagnosticado como infertilidade inespecífica ou inexplicada. Eu não podia pagar (emocional ou financeiramente) os tipos de testes ou procedimentos que poderiam fornecer mais informações ou soluções. Então eu decidi parar de tentar. Foi uma decisão muito difícil e triste.
É claro que naquela época meu foco estava inteiramente no acompanhamento do meu ciclo para identificar meus períodos férteis. Foi extremamente importante para mim saber quando eu estava mais propensa a engravidar. Naquela época, eu estava fazendo o rastreamento apenas para esse fim, e definitivamente não era para medir ou prever que minha libido aumentasse. Dada a natureza estressante de todo o processo, praticamente não havia libido para rastrear.
Por todas essas razões, é particularmente doloroso para mim que eu me encontre mais uma vez acompanhando meu ciclo muito de perto, mas por motivos completamente diferentes.
Estou refletindo profundamente sobre o fato de que cheguei a um ponto em minha vida em que a gravidez, mesmo sem problemas de fertilidade, é uma possibilidade cada vez mais distante, se não inexistente. Ainda há muita tristeza. Eu ainda evito certas situações centradas em bebês ou na gravidez, ou às vezes até pessoas, principalmente quando estou passando por um momento difícil, ou preciso tratar essa parte triste de mim com mais carinho.
Agora estou solteira, não estou mais querendo ter filhos com ninguém e estou feliz com essa situação. Estou no começo de uma nova fase na minha carreira e estou mais feliz com e no meu corpo físico do que já estive. Sou sexualmente ativa e, apesar dos perigos ocasionais de namorar na minha idade em uma cidade com uma população muito jovem, estou curtindo. Eu me sinto sortuda por poder aproveitar ao máximo este presente inesperado do universo hormonal que meu surpreendente corpo humano é e sempre foi.