Ilustração por Marta Pucci

Tempo de leitura: 13 min

Qual é a eficácia dos métodos contraceptivos?

Aprenda a diferença entre uso perfeito e uso típico

*Tradução: Mariana Rezende

A maioria das pessoas quer métodos contraceptivos bons, que evitem uma gravidez indesejada. Felizmente, todos os métodos contraceptivos são melhores na prevenção da gravidez do que nenhum método, mas alguns são melhores do que outros.

O bom funcionamento de um método, no entanto, depende de muitos fatores. É importante entender como esses fatores interferem na capacidade de cada método de evitar uma gravidez indesejada e como os pesquisadores descrevem o bom funcionamento dos métodos.

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A terminologia de pesquisa

Pesquisadores geralmente medem o bom funcionamento um método contraceptivo de duas maneiras: taxas de uso perfeito e de uso típico (1, 2). Ambas as medidas descrevem o risco de gravidez de um grupo e não o risco individual de uma pessoa engravidar.

Além disso, essas medidas servem para o primeiro ano de uso de um método. Por exemplo, um casal pode usar camisinha por um ano, depois usar a pílula por um ano e depois voltar para os preservativos. A taxa de uso perfeito e uso típico de preservativos se aplicariam a esse casal para os dois anos em que eles usaram preservativos, não apenas no primeiro ano. No entanto, em teoria, se um casal usasse preservativos por dois anos seguidos, essas taxas só se aplicariam ao primeiro ano.

Para usuários do implante ou dispositivos intra-uterinos (DIUs), essas taxas são aplicáveis para o primeiro ano após a inserção do dispositivo.

Uso perfeito (também conhecido como eficácia)

O uso perfeito descreve quão bem um método funciona entre um grupo de pessoas, se usado exatamente conforme as instruções e usado toda vez que essas pessoas fazem sexo (1).

Para ser um “usuário perfeito”, uma pessoa e seu parceiro precisam usar um método corretamente, de acordo com as instruções, e usá-lo sempre que fizerem sexo.

Às vezes, essa medida é chamada de eficácia de um método. Você pode pensar em eficácia como sendo o bom funcionamento de um método.

Uso típico (também conhecido como efetividade)

O uso típico descreve o quão bem um método funciona entre um grupo de pessoas que estão usando o método “tipicamente” (1).

Os usuários típicos incluem pessoas que:

  1. Usem o método corretamente e todas as vezes que fazem sexo (ou seja, usuários perfeitos)

  2. Usem o método corretamente, mas nem todas as vezes que fazem sexo

  3. Usem o método todas as vezes que fazem sexo, mas nem sempre corretamente, e

  4. Não usem o método corretamente ou todas as vezes que fazem sexo.

Normalmente, essa medida é chamada de efetividade de um método.

As taxas de uso típicas podem mudar com o tempo e podem ser diferentes entre populações específicas. Por exemplo, se as pessoas se tornarem mais instruídas sobre como usar preservativos, esperaríamos que houvesse menos gravidezes entre o grupo de uso típico. (É por isso que você pode ver diferentes taxas de uso típico – elas dependem do ano de origem dos dados e de qual população está sendo estudada. As taxas que apresentamos são as mais atuais até 2021 para pesquisas feitas nos Estados Unidos ou de ensaios clínicos, dependendo do método. Estimativas de uso típico podem variar entre populações específicas dentro dos EUA ou em outros países, mas isso deve ser um bom guia mesmo que você não esteja nos EUA).

Como entender os números de uso perfeito (eficácia) e o uso típico (efetividade)

Taxas de uso perfeito e típico são frequentemente relatadas como taxas de gravidez em um ano entre 100 casais heterossexuais (1).

A diferença entre as taxas de gravidez de uso perfeito e de uso típico dá uma ideia do grau de dificuldade de uso de um método.

Por exemplo, a taxa de gravidez de uso perfeito de preservativos masculinos é de 2 gravidezes em 100 casais ao longo de 1 ano (1). Mas a taxa de uso típico é de 13 gravidezes em 100 casais em um ano (1). Isto significa que se uma pessoa usa preservativos de acordo com as instruções, eles funcionam muito bem para prevenir a gravidez indesejada; no entanto, parece que muitas pessoas não usam preservativos conforme as instruções e correm um risco muito maior de gravidez indesejada.

Alguns métodos, como o implante, são muito bons em prevenir uma gravidez indesejada. Métodos como este têm uma taxa de uso perfeito que é menor que 1 gravidez em 1 ano para 100 casais. Por exemplo, o implante contraceptivo tem uma taxa de gravidez de uso perfeito e uso típico de 0,1 em 100 casais em um ano (1).

(Isso pode parecer um pouco confuso, porque não existem 0,1 casais, mas tente mover o ponto decimal um espaço para a direita. Para o implante contraceptivo, por exemplo, você pode pensar na taxa de gravidez como 1 gravidez por 1.000. Em comparação, a taxa de uso perfeito do preservativo é de 20 por 1.000 casais por ano.)

Como essas taxas se comparam a não usar nenhum método contraceptivo?

As taxas de uso perfeito e uso típico são frequentemente comparadas à taxa de gravidez para casais que não estão usando nenhum método contraceptivo. Entre 100 casais que não usam nenhum método e fazem sexo regularmente, espera-se que cerca de 85 das parceiras engravidem em um ano (embora as estimativas variem) (1).

Algumas pessoas têm fisiologicamente menos probabilidade ​​ou são completamente incapazes de engravidar ou engravidar alguém. A capacidade de engravidar de uma pessoa diminui com a idade (1). As pessoas que fazem sexo com menos frequência também têm menor probabilidade de engravidar.

É por isso que as taxas de uso perfeito e de uso típico não devem ser interpretadas como o risco individual de gravidez de uma pessoa. Por exemplo, a frase “uma pessoa que usa preservativos corretamente toda vez que faz sexo tem 2% de chance de gravidez” não está correta. O risco individual de gravidez de uma pessoa depende de diversos fatores.

Sou “usuária(o) típica” ou “usuária(o) perfeita”?

O significado de “usuário típico” e “usuário perfeito” acabam por depender do método. Além disso, nem sempre a escolha de classificação de alguns casais por pesquisadores é clara.

Uso perfeito e típico: preservativos

Vamos supor que temos quatro casais que usam preservativos masculinos.

O Casal 1 usa preservativos toda as vezes que faz sexo, mas às vezes fica confuso sobre como desenrolar uma camisinha. Eles às vezes usam preservativos que foram incorretamente desenrolados ao invés de jogá-los fora. As instruções dizem que eles devem jogar esses preservativos fora e usar novos.

Uso típico ou uso perfeito? O Casal 1 seria “usuário típico”, porque você deve jogar fora um preservativo se você o colocar incorretamente.

O Casal 2 sabe como usar preservativos corretamente, mas só usam preservativos durante o meio do ciclo da parceira ou quando a parceira acha que pode estar ovulando. Eles não estão usando um método contraceptivo "natural", mas apenas estimando quando é o período fértil.

Uso típico ou uso perfeito? O Casal 2 pode ser considerado como “usuário típico”, porque eles não usam camisinha toda vez que fazem sexo.

O Casal 3 usa preservativos corretamente sempre que faz sexo. Se acidentalmente colocar o preservativo de forma incorreta, descartam o preservativo e usam outro preservativo. Eles se certificam de manter os preservativos armazenados corretamente e verificar as datas do preservativo mensalmente.

Uso típico ou uso perfeito? O Casal 3 poderia ser considerado como “usuário perfeito”, porque estão usando preservativos sempre que fazem sexo e os estão corretamente.

O Casal 4 usa preservativos e o método de dois dias de contracepção natural. O casal usa preservativos somente quando a parceira tem fluido cervical que sugere ovulação.

Uso típico ou uso perfeito? O Casal 4 provavelmente não seria considerado como “usuário perfeito” do método de dois dias porque usaram preservativos durante a janela fértil, o que não é considerado “uso perfeito” para esse método pelos pesquisadores. Eles também provavelmente não seriam considerados “usuários perfeitos” de preservativos, porque não usam preservativos toda vez que fazem sexo. Embora não sejam “usuários perfeitos” por definição, essa abordagem ao uso de contracepção é razoável, desde que usem o método de dois dias corretamente.

Uso típico e perfeito: pílula contraceptiva oral combinada (“a pílula”)

O uso perfeito e o uso típico de métodos hormonais e o DIU de cobre parecem um pouco diferentes. Por exemplo, vamos analisar três casais que dependem da pílula contraceptiva oral combinada.

No Casal 1, a parceira toma a pílula todos os dias no mesmo horário. Ela sempre faz questão de comprar a próxima caixa de comprimidos pelo menos uma semana antes de começar a usá-la para começar a próxima cartela no prazo certo.

Uso típico ou uso perfeito? Essa pessoa seria um "usuário perfeito" da pílula.

No Casal 2, a parceira às vezes se esquece de tomar a pílula todos os dias. Às vezes ela também atrasa o início da próxima cartela de comprimidos.

Uso típico ou uso perfeito? Essa pessoa seria um "usuário típico" da pílula, porque ela não toma a pílula todos os dias e porque às vezes ela começa as cartelas atrasada.

No Casal 3, a parceira vinha usando a pílula há alguns anos, mas decidiu parar recentemente. Ela tinha ouvido falar que a ovulação pode levar alguns ciclos para normalizar, então ela e seu parceiro não usam outro método contraceptivo, mas ainda fazem sexo regularmente por um mês depois de terem parado de usar a pílula.

Uso típico ou uso perfeito? Dependendo do estudo, essa pessoa pode ser considerada uma usuária típica da pílula ou alguém que não usa nenhum método. (Infelizmente, este usuário recebeu informações incorretas sobre como a pílula funciona e está em risco muito alto de gravidez. Uma vez que a pessoa deixa de usar a pílula, ela não é mais considerada protegida de gravidez indesejada. A maioria das pessoas ovula no ciclo depois de pararem de tomar a pílula (3, 4).)

Assim como com os preservativos, existe uma grande diferença entre as taxas de gravidez de uso perfeito e uso típico da pílula. Entre os usuários perfeitos, menos de 1 em cada 100 casais engravidará em um ano (o número real é de 0,3 casais em 100). Em contraste, a taxa de gravidez é de 7 em 100 casais de uso típico em um ano (1).

Embora o preservativo e a pílula sejam excelentes para evitar uma gravidez indesejada, algumas pessoas podem achar difícil usar esses métodos impecavelmente. Alguns métodos são mais fáceis de usar perfeitamente porque não exigem que uma pessoa tome uma pílula diária ou lembre-se de comprar mais preservativos.

Uso Típico e Perfeito: Implante e DIUs

O implante e os dispositivos intrauterinos (DIUs) têm quase exatamente as mesmas taxas de uso perfeito e uso típico (1). Isso porque, uma vez que eles são inseridos por profissional de saúde, não exigem visitas constantes à farmácia ou lembretes diários de uso.

Para o implante e todos os tipos de dispositivos intrauterinos (ou seja, cobre e hormonal), menos de 1 em cada 100 casais engravidará em 1 ano durante o ano seguinte à inserção (1). Isso é válido tanto para usuários comuns quanto para usuários perfeitos. A eficácia desses métodos, particularmente o DIU, diminui um pouco ao longo do tempo, mas ainda permanece muito alta (1).

Quão eficaz é cada método contraceptivo?

Veja abaixo uma tabela mostrando as diferenças entre as taxas de gravidez de uso perfeito e uso típico para alguns métodos (1). (Você pode comparar todos os métodos aqui. Essa é a fonte que usamos para as taxas usadas neste artigo.)

Estas são as taxas de uso típico e uso perfeito para 100 casais que usam um método por um ano.

Alguns métodos, como métodos de monitorização de fertilidade (planejamento familiar natural), são menos usados ​​do que outras formas de contracepção. Isso pode resultar em estudos com amostras pequenas, o que dificulta a generalização e a obtenção de boas estimativas.

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Como escolher o método contraceptivo que funcione melhor para mim?

Como já mencionamos, seu risco individual de gravidez dependerá de alguns fatores, como sua idade, a frequência com que você faz sexo e a acessibilidade para você e seu(s) parceiro(s) para obter um método contraceptivo ideal (1).

Alguns métodos, como o coito interrompido, podem ser mais afetados pela fisiologia subjacente, enquanto métodos como o DIU de cobre funcionam da mesma maneira em todas as pessoas. Além disso, as pessoas que usam o coito interrompido e fazem sexo muitas vezes têm um risco maior caso a retirada não aconteça a tempo – enquanto o número de vezes que você faz sexo ao usar um DIU provavelmente não importa, desde que seu DIU esteja inserido corretamente.

Ao escolher um método contraceptivo, é bom analisar as taxas de gravidez de uso perfeito e de uso típico. Se você acha que seria um usuário perfeito de um método, as taxas de gravidez de uso típico provavelmente não são tão importantes para você. Mas é importante entender o que realmente significa ser um usuário perfeito, e as taxas de uso típicas dão uma ideia do risco que você corre caso tenha dificuldades em ser um usuário perfeito.

Coisas que você não deve esquecer de mencionar em consultas médicas

Embora tenhamos analisado algumas diferenças entre usuários perfeitos e típicos de métodos contraceptivos, você deve conversar com profissionais de saúde sobre o que constitui o uso perfeito e pensar em como esse método se adequa à sua vida.

Você também pode optar por usar dois (ou mais) métodos simultaneamente. Usar corretamente vários métodos reduz ainda mais o risco de gravidez indesejada (1). Por exemplo, entre 100 casais que usam preservativos e espermicida corretamente toda vez que fazem sexo ao longo de um ano, menos de um casal engravidaria (1). (O uso de preservativos também ajuda a prevenir a disseminação de infecções sexualmente transmissíveis.)

Naturalmente, o bom desempenho de um método pode não ser o único fator que importa para você. Custo, efeitos colaterais e preocupações com segurança são frequentemente citados como considerações importantes na escolha de um método anticoncepcional (5, 6). É importante que você informe suas dúvidas sobre os métodos a um profissional de saúde.

Realisticamente, os profissionais de saúde e seus pacientes nem sempre concordam com o que é mais importante. Os prestadores de serviços de saúde podem estar mais preocupados com o risco de gravidez, enquanto você pode estar ter mais preocupações com os efeitos colaterais ou com a acessibilidade do método. Pessoas que fazem parte de minorias raciais e/ou étnicas e pessoas de nível socioeconômico mais baixo podem ser tratadas de forma desigual por profissionais de saúde (7).

Se seu prestador de cuidados de saúde parece não ouvir suas preocupações, considere contactar um profissional diferente. Você merece alguém que escute o que você tem a dizer.

Além disso, nem todos os profissionais de saúde sabem como usar ou ensinar todos os métodos contraceptivos. Por exemplo, os métodos de planejamento familiar natural a partir do monitoramento da fertilidade muitas vezes não são ensinados a profissionais de saúde, incluindo ginecologistas obstetras, de modo que esses profissionais podem não ter as informações mais atualizadas sobre esses métodos (8-10).

Usar métodos contraceptivos – e escolher qual método você usa – é 100% sua decisão. Aprender sobre você e sobre suas opções é a melhor maneira de tomar uma decisão.

O Clue app te ajudar a fazer melhor uso de seus métodos contraceptivos e pode ser usado para acompanhar sua frequência sexual. Nosso app também pode ser usado para rastrear efeitos colaterais e alterações em seu corpo causadas pelos métodos contraceptivos.

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Artigo atualizado em 16 de março de 2021.

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