Ilustração: Marta Pucci

Tempo de leitura: 8 min

Tudo sobre a Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais (SHBG)

Conheça seus hormônios.

*Tradução: Juliana Secchi

Hormônios são muito mais interessantes do que aquilo que nos ensinam nas aulas de ciência. Por isso nós criamos um guia para todos os hormônios. Aqui está tudo o que você precisa saber sobre estrogênio, progesterona, androgênios, progestinas, estrogênio sintético e globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG, da conhecida abreviação em inglês).

Coisas importantes a saber:

  • A globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG) ajuda a controlar a quantidade de hormônios sexuais disponíveis para o corpo—isso ajuda a manter em equilíbrio os processos relacionados a hormônios sexuais.

  • A SHBG pode estar relacionada à função da insulina, afetando condições como a síndrome metabólica e síndrome dos ovários policísticos (SOP).

  • A SHBG é importante mesmo após a menopausa—aqueles com altos níveis de SHBG apresentam risco menor de desenvolver câncer de mama pós-menopausa .

O que é a Globulina Ligadora de Hormônio Sexual?

A globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG) é uma proteína que afeta a função de alguns hormônios sexuais, incluindo a testosterona e o estrogênio (1,2). É produzida principalmente no fígado (1).

Em resumo, a SHBG une-se a hormônios sexuais específicos, removendo-os da circulação direta no corpo (1).

O que a SHBG faz para o corpo?

Na corrente sanguínea, os hormônios sexuais podem ser encontrados em duas formas: livres e ligados. Hormônios podem se ligar a diferentes moléculas. No caso da testosterona e do estrogênio, uma dessas moléculas é a SHBG. Outra é a proteína albumina (1,2).

Quando um hormônio sexual está livre ou ligado à albumina, o hormônio é considerado biodisponível (1). Isso significa que ele pode adentrar tecido e produzir um efeito biológico.

Por outro lado, quando ligado à SHBG, o hormônio sexual é essencialmente inativo e tem um impacto biológico mínimo—ou nulo—sobre o corpo até a sua liberação (1).

Dessa forma, a SHBG age quase como um amortecedor, controlando a quantidade de hormônios sexuais disponíveis para o corpo. Isso ajuda a manter os processos relacionados aos hormônios sexuais em equilíbrio.

Em mulheres e pessoas com órgãos reprodutivos femininos, a grande maioria da testosterona e estradiol no sangue está ligada à SHBG e outras proteínas e não é biodisponível—apenas cerca de 2% desses hormônios sexuais são livres para se ligar aos receptores e produzir algum impacto no corpo (3,4).

A SHBG também pode liberar hormônios em tecidos específicos e possivelmente dentro das células diretamente (1,2). Essa ligação produz um efeito tanto nos hormônios sexuais quanto na SHBG. Os hormônios sexuais ligados à SHBG não afetam a função do corpo até serem liberados, e os hormônios sexuais ligados à SHBG podem afetar o quão bem a SHBG se liga ao seu próprio receptor (1).

(Receptores são como fechaduras, e apenas determinadas chaves—como hormônios ou SHBG—podem abrí-las.)

Baixos níveis de SHBG: como eles afetam o corpo? Efeitos & associações

Como a SHBG se liga aos hormônios sexuais, seu nível relativo pode afetar os níveis de hormônios sexuais disponíveis para serem usados pelo organismo—afetando, dessa forma, os processos cujos hormônios sexuais regulam.

Por exemplo, quando os níveis de SHBG estão relativamente baixos nas mulheres, os níveis de testosterona podem se tornar atipicamente altos, causando efeitos colaterais como hirsutismo e acne (2).

Também pode haver uma relação entre SHBG, testosterona e libido (desejo sexual). (Nós nos aprofundaremos nisso neste artigo.)

A SHBG também pode se relacionar com outros processos corporais.

Níveis baixos de SHBG também são associados com:

  • síndrome metabólica

  • resistência a insulina

  • diabete tipo 2

  • risco de doença cardiovascular

  • diabete gestacional

Não está claro se os níveis de SHBG afetam esses distúrbios ou vice-versa (1,5-7).

SHBG e Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

De maneira semelhante, pessoas com síndrome dos ovários policísticos (SOP), um distúrbio associado à síndrome metabólica, tendem a apresentar baixos níveis de SHBG (2,5,8). Isso pode ser causado por altos níveis de androgênios (uma classe de hormônios que inclui a testosterona), que causa desequilíbrios nos hormônios sexuais e suprime a produção de SHBG em pessoas com SOP (5).

SHBG e o peso

Os níveis de SHBG estão também associados ao peso. Geralmente, SHBG decresce à medida que o peso aumenta (5,9,10). Pessoas com anorexia nervosa apresentam altos níveis de SHBG, enquanto pessoas obesas tendem a apresentar níveis baixos (5,9,10).

Como saber se meus níveis de SHBG estão normais?

Todo mundo tem seu próprio "normal" quando se trata de hormônios, e o que é "normal" muda ao longo da vida de uma pessoa.

Dito isso, em média, os níveis de SHBG variam conforme envelhecemos. Os níveis começam altos ao longo da infância, caindo no início da puberdade, entre as idades de 9 e 12 anos para a maioria das pessoas (9). À medida que alguém progride na puberdade, seus níveis de SHBG aumenta novamente (11).

Para mulheres cis que não estão grávidas e pessoas com órgãos reprodutivos femininos, os níveis "normais" de SHBG geralmente se apresentam entre 18 e 144 nmol/L após a puberdade (9).

Estudos apontam que etnia também pode afetar os níveis de SHBG. Em um pequeno estudo, verificou-se que os níveis de SHBG eram mais baixos em mulheres não suecas do que em mulheres suecas, mas os níveis para os dois grupos de mulheres ainda estavam dentro da normalidade (18 e 144 nmo/ L) (12).

O ciclo menstrual afeta os níveis de SHBG?

Estudos descobriram que os níveis de SHBG podem variar ao longo do ciclo menstrual. Em um estudo com mulheres com durações de ciclos entre 25 e 31 dias, o nível médio de SHBG atingiu o pico em torno da ovulação e se apresentou mais baixo durante o início da fase folicular e durante a fase lútea (13).

(Isso pode ocorrer porque os níveis de estrogênio afetam a SHBG (9,14). O estrogênio atinge o pico pouco antes da ovulação, portanto, é possível que o aumento da SHBG próximo da ovulação seja devido à variação dos níveis de estrogênio. Mas isso é apenas uma hipótese.)

No entanto, as faixas dos níveis de SHBG foram as mesmas em todas as fases do ciclo para 95% dos participantes (13), o que sugere que nem todo mundo experimente necessariamente variações.

São necessárias mais pesquisas para confirmar esses resultados e para entender por que essa variação acontece (se é que acontece).

A duração do ciclo pode estar associada aos níveis de SHBG. Em um estudo, os níveis de SHBG foram maiores em pessoas com ciclos inferiores a 26 dias com relação aos níveis de pessoas com ciclos de mais de 27 dias (15).

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Como os contraceptivos hormonais afetam os níveis de SHBG?

Os contraceptivos hormonais (como a pílula, o implante e os dispositivos intra-uterinos hormonais) afetam os níveis de SHBG, dependendo do tipo de contraceptivo.

O impacto dos contraceptivos hormonais nos níveis de SHBG—e o efeito resultante dos níveis de SHBG nos níveis de androgênio—podem explicar por que os contraceptivos hormonais podem afetar a libido. Saiba mais sobre a relação entre contraceptivos e desejo sexual aqui.

SHBG e a pílula, o adesivo e o anel vaginal

Contraceptivos que contém estrogênio (a pílula combinada, o adesivo contraceptivo e o anel vaginal) aumentam os níveis de SHBG (14,16-19). (Nesses casos, o aumento da SHBG é causado pelo estrogênio contido nesses formatos de contraceptivos (14,20).

SHBG e DIU hormonal, implante, injeção e minipílula

Observou-se que as formas de contraceptivos apenas com progestina (DIU hormonal, implante de etonogestrel, aplicação contraceptiva de DMPA (injeção) e minipílula de levonorgestrel) diminuíram a SHBG (21-25).

SHBG, contraceptivos hormonais e coágulos sanguíneos

Além disso, os níveis de SHBG podem ser um indicador informativo do risco de coágulo sanguíneo durante o uso de contraceptivo hormonal (26,27).

Dentre os usuários de contraceptivos hormonais combinados, níveis mais altos de SHBG estão associados ao aumento do risco de coágulo sanguíneo.

Essa associação provavelmente não seja causal—isto é, a SHBG não causa um aumento no risco de coágulo sanguíneo. Pelo contrário, a associação provavelmente seja motivada pela relação entre essas duas coisas e o estrogênio.

O estrogênio do contraceptivo hormonal combinado aumenta os níveis de SHBG (9,14), e também acredita-se que a quantidade de estrogênio nos contraceptivos aumenta o risco de coágulos sanguíneos entre os usuários de contraceptivos hormonais (28).

O que mais devo saber sobre a SHBG?

Os níveis de SHBG parecem ter um efeito na saúde das mamas. Por exemplo, em estudos com mulheres na pré-menopausa que não faziam uso de contraceptivos, níveis mais altos de SHBG correspondiam a níveis mais altos de líquidos nas mamas (29).

De maneira semelhante, o risco de câncer de mama na pós-menopausa pode ser menor entre aqueles com altos níveis de SHBG, em comparação com aqueles que possuem níveis baixos de SHBG (30). Além disso, a perda de peso e o uso de alguns tratamentos para o câncer de mama, como o tamoxifeno, podem diminuir o risco de câncer de mama ao aumentar os níveis de SHBG (5,31,32). Níveis mais altos de SHBG podem ser benéficos porque a SHBG se liga ao estrogênio, reduzindo assim a capacidade do estrogênio de promover o crescimento do câncer (5,31). Além disso, o SHBG pode afetar diretamente o crescimento do câncer (32).

Níveis mais altos de SHBG também foram associados a uma melhor saúde cardiovascular e status metabólico em mulheres na pós-menopausa (33,34).

Embora a SHBG seja conhecida principalmente por seu efeito sobre os hormônios sexuais, pesquisas futuras podem vir a mostrar que ele tem seu próprio papel específico a desempenhar em nossos corpos.

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